10 de jul. de 2010

NPS Cap 11 Viagens

 Depois da mudança de apartamento, e com uma boa ajuda do Rick com a decoração, morávamos eu e o Felipe, finalmente num apartamento confortável, cada uma com sua suíte com banheiro e closet, sala grande e uma bela e equipada cozinha americana, o apartamento não era luxuosíssimo mas muito, muito mesmo melhor do que se espera de dois jovens um com 22 prestes a fazer 23 e outro com 18 que esperava o resultado de seu vestibular. A vida transcorria normal. Eu estava sempre que possível com o Rick, que apesar de não ser um Ricardo Sênior era um jovem inteligente, um pouco manhoso, e muito mimado, a não ser comigo que espertamente fiz o estilo dominador, o Ricardo estava feliz, achava que as amizades do Rick melhoraram, inclusive se interessou em fazer um estagio de verão na Empresas, isso bastou para eu ganhar um belo Mitsubishi Track 4x4 não um gigante como o do Rick, que meu amor pela natureza achava e acho ainda uma imbecilidade um carro com tão alto poder de consumo para uma pessoa apenas, o Rick ainda não sabia que eu era prostituto, após uma conversa com o Ricardo avisei-lhe que não seria bom manter um segredo tão frágil, então decidir contar no fim de semana em uma boa trepada, nada melhor que uma foda pra acalmar os ânimos, também não iria contar que era pago pelo pai dele, nenhuma autoestima merece isso, principalmente um jovem tão bonito, nisso entramos em novo ano. Eu e o Felipo resolvemos ver os babbos, íamos em meu carro, o resultado do Felipo sairia em poucos dias e ele estava nervosíssimo, eu não, tinha plena convicção que ele passaria. A moto já estava guardada na garagem de um vizinho e eu havia comprado três capacetes (um pra ele, um pra mim, e um de ocasional carona) e um belo casaco de motoqueiro pro maninho que não entendia minha insistência em que ele tirasse urgente a carta de motorista AB, ou seja, moto/auto, a minha eu já havia transformado nesta categoria, sabia que tiraria umas lasquinhas da moto do fratello uma linda maquina Teneré 600 cc. Vocês sabem sou metido, gosto de coisa boa. Nada de 125 pro maninho. Alem do mais um puto chegando em 125 pensariam ser o motoboy.
Chegamos a nossa cidade e encontramos os babbos felizes com o fim da reforma da casa nova na cidade, um simpático sobradinho, com jardim na frente e um quintal que era mantido com muito carinho por eles, também morava La a filha da Marguerita, filha de nossa búfala, com um búfalo que demos a sorte de encontrar quando um caminhão levando búfalos como carga quebrou perto de nossa casa, demos guarita ao caminhoneiro que agradecido cedeu uma trepadinha pra Gioia. Ficamos horas neste quintal admirando o primor com que estava sendo cuidado, Lipo com olhos cheios d’água fazia carinhos na Marguerita, lembro do sofrimento dele quando a Gioia morreu ficou semanas sem comer queijo, pois abria o berreiro, queijo lembrava mozzarela, que lembrava Gioia, eu não nego que derramei minhas lagrimas por ela, mas o Lipo parecia ter perdido o melhor amigo, tinha também um pequeno galinheiro, pés de pomodoro (TOMATE) sicilianos, e pomodorino (tomate pequeno, maior que o cereja) os melhores para fazer o sugo, até hoje temos herdeiros de mudas que carinhosamente a mamma nos preparou, manjericão, alecrim, louro fresco (também temos mudas) a mamma ficava chocada de usarmos qualquer tomate para preparar o sugo, achava um desrespeito as tradições, por amor a esses tradições nos dois marmanjões já, tomamos muitos sopapos nesta viagem por de vez em quando cometermos o crime de falar em português em casa, a cada palavra de nossa bela língua, eu e o mano tomávamos um tapa na nuca, esses tapas vindos de surpresa eram capaz de provocar uma ira insana, mas engolíamos e nos desdobrávamos em acusas. Havíamos chegados antes da véspera de Natal, a mama nos esperou para junta toda a família montar o nosso presépio, e segundo o mais antigo costume o bambino Jesus o entraria no presépio no dia de seu nascimento, também pusemos na porta a figura de La Befana (La Strega, ou La Vechia, uma espécie de Papai Noel)
Tínhamos levado uma TV de tela grande para o babbo e novos equipamentos de cozinha chegaram antes de nos, eram presente para a mamma que por anos cozinhou em fogão a lenha, fizemos um no quintal com um forno grande onde foi assado o cordeiro de Natal. Foi um dos natais mais felizes de minha vida, vi meus Babbos instalados numa casa com todo conforto, e seu carinho por ela, a mamma nos deu um presente que nos levou as lagrimas os dois, quilos de mozzarela de Búfala, dessa vez com leite da Marguerita, foi o que bastou para o Lipo chorar convulsivamente e cair de beijos em cima da Marguerita, falando pra ela que tinha certeza que o leite dela seria tão bom quanto o da sua mamma, chorei lembrando nos dois juntando leite durante a semana para que a mamma fizesse as mais deliciosas mozzarelas do mundo. Juro que nunca, nem nos mais elegantes restaurantes que hoje frequento ter visto nada tão suave e marcante ao paladar, tão macio ao toque e tão branco e oval aos olhos
Na volta depois das festas, eu e o Lipo trocamos impressões sobre o bem estar deles e não nos passou despercebido que mesmo felizes com a nova casa, estavam solitários, antes éramos quatro, hoje eles estão solitários, numa cidade pequenina, e o que muito me incomodava, com uma assistência medica distante. Eu tinha acordado com um motorista de táxi levava-os sempre que iam ao medico na cidade vizinha, mesmo assim eu temia uma necessidade urgente. Sentiam saudades de parentes e velhos amigos em Napoli. Com isso resolvi que meu próximo desafio seria uma casa para eles nos arredores de Napoli, pus em testa (na cabeça) que lhes devolveria o lar em nostra Itália.
O carnaval se aproximava, recusei vários convites do Rick para viajar com ele. Ricardo também havia me chamado e resolvi chutar o pau da barraca, dizendo-lhe que estando com o filho dele era melhor evitarmos trepar, pois se descobertos geraria grande desconforto com o Rick, talvez até estragando todo avanço conseguido até ali. Aceitei um convite de um cliente para um Carnaval na Itália, em Veneza, seguido de um passei de um passeio pelas terras de meu coração, ficaria fora 15 dias só voltando no dia anterior à liberação dos resultados do vestibular do Felipo, este seguiu para o caribe com um cliente que tinha me dispensado tranquilamente depois de uma noite com mio fratello ladrone di cuori. Com esse prejuízo lhe disse que não mais faria a besteira de apresentá-lo toa, pelo não a clientes tão ricos, já contava em dois os desfalques que meu putinho com seu jeito moleque tinha causado em minha seleção. Tínhamos discutido por ele ter entrado numa agencia que apesar de sofisticada expunha corpos e rostos em fotos num site, pensava ser um ponto negativo estar marcado e com rosto conhecido como prostituto, mas ele manteve pé firme, e desisti. Então éramos rivais em agencias distintas, e não poderia correr o risco de expor algum cliente meu a ser visto com ele. Fora o aspecto de trabalho, nossa relação estava harmônica com sempre e mantínhamos nossas fodas em dia.
Quanto ao Ricardo não se mostrou feliz com minha atitude, eu adorei, achei que estava com ciúmes, mal sabia ele que cada dia sua pessoa se apossava tomava mais um canto de meu coração, eu fingia não perceber a invasão que a proximidade de seu filho tornava mais fácil.
Dois dias antes de o Carnaval tomar assento nas ruas e mentes soteropolitanas embarquei rumo a Europa, faríamos escala em Bruxelas e seguiríamos a Firenzi. Chegamos a Veneza e nos hospedemos num chiquérrimo hotel com vistas ao Grand Cannale.
Não era o primeiro cliente que me trazia a Itália, mas a primeira vez que veria Veneza de forma tão sofisticada, já que na ultima estada vim de mochila numa fuga de Salvador, que passando em Firenze, tive o prazer de ver as obras mais belas do Renascimento. Fiquei e até hoje fico horas sentado no museu admirando o Davi, símbolo da beleza e perfeição masculina, em outro museu me deparo com o Nascimento de Vênus obra máxima de Boticeli, sinto um tremor de emoção percorrer meu corpo, a perfeição das cores me assombram de uma forma que imediatamente me vêm lagrimas aos olhos, seguido dos tremores sinto minhas pernas fraquejarem e todo o museu gira diante de mim. Acordei no dia seguinte num hospital, fui diagnosticado como portador da Síndrome de Stendhal, uma síndrome que provoca desmaios e às vezes alucinações aos hipersensíveis a arte. O medico pediu que evitasse visitar grandes museus sozinho, disse-lhe
-Mi despiace, mas ainda vou sozinho a Assisi, (Assis) não volto ao Brasil sem ver os primeiros afrescos do Renascimento, admiro Giotto e não deixarei de prestar-lhe minhas homenagens, mesmo que entre elas um desmaio súbito. Mas vou pedir uma companhia no albergo onde estou para me despedir da Vênus que tudo isso começou.
O Medico.
- Não entendemos porque, mas Il nascimento di Vênus” é a obra que mais crises provoca, talvez pelas cores, e profundidade que obra sugere. Realmente um enigma.
-Caro doutore, agora entendendo como a arte me provoca reações emocionais e físicas, alguns momentos desagradáveis têm explicação. Tive crises de vomito logo após uma exposição de Caravagio, na primeira vez no Vaticano devo ter ficado horas sentado na Basílica sem forcas para sair dali.
--Você não teve uma crise seria já tive pacientes que dormiram dias seguidos ou serias alucinações, achamos que tem algo parecido com as síndromes que acometem visitantes de locais sagrados como Jerusalém, Meca e outros, a mente humana é uma surpresa.
-Doutor, no caso da arte acho que entendo. Penso que a perfeição nos é assombrosa quando criada por mãos humanas, nos aceitamos na Natureza, pois lhe damos papel divino, mas pensar que um humano possa ter o poder de atingir a perfeição, a mim, me parece verdadeira mente assombroso, avassalador.
-Você é Romano?
-Não, Napolitano, e com orgulho, mas sou mezzo brasiliano, talvez por isso não tenha tão profundo acento napolitano.
Esta foi uma viagem de exploração de busca da arte, fiz com pouco de dinheiro e em pouco tempo, me hospedando em Osterias (hostel) e de mochila nas costas. Agora voltava como príncipe, ficaria em hotéis sofisticados, comeria nos melhores restaurantes, iria aos mais elegantes bailes de Carnaval e perderia o melhor da viagem que pra mim é o contato intimo com os locais. Uma visita a Itália, requer que andemos pelas ruas, frequentemos os mercati, tomemos Gelatto nas piazzas. Comamos corneto e tomemos café pela manha nos inúmeros cafés das cidades. A Itália gosta de ser sentida não só vista.

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