9 de jul. de 2010

NPS Cap 08 Um Erro

Dormi o sono dos justos e felizes. Cedo no dia seguinte voltei a minha doce rotina academia, corrida, vôlei na praia, faculdade. Descendo do ônibus de volta pra casa recebo uma chamada no celular, era o Ricardo.
-Fala meu rei!
-Ahaah, adoro seu ar juvenil.
-Adoro seu ar sério e comportado.
-Matteo, você é um garoto especial, liguei para te agradecer a nossa farra. Foi sexo do século.
-Prefiro Foda do Século, quando é sobre sexo, prefiro a pornografia.
-Quero te agradecer mais a contento!
-Acho que o ganhei, me satisfaz além da conta.
-Não falei em dinheiro!
-Nem eu!
-Garoto! Cuidado com o que dizes, sou um homem experiente, não preciso que você me seduza sempre.
-Não era essa minha intenção, mas gostaria que acreditasse, que mi piace estar contigo.
-Então. Tenta me falar forma clara.
-Não sei como dizer, mas podendo roubar palavras, te digo:
“a mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que se dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino......”
Depois de prolongado silêncio:
-Você ainda esta ai?
-Sim estou, e mais surpreso contigo que jamais estive. Quero te conhecer melhor Matteo. Jantamos juntos hoje?
-Seria um prazer, alguma vez Fuji à um convite seu?
-Te pego em casa em duas horas.
-Onde vamos?
-Será uma surpresa.
-Como devo vestir-me?
-De forma casual e leve.
Em duas estava eu na portaria de meu prédio e ele foi pontual. Veio no carro esporte que usava quando nos conhecemos, Um Audi que eu chamava de carro de 007, e que devido ao meu tamanho era torturante me por fazer entrar e acomodar nele. Vendo minha cara olhando o carro, Ricardo:
-Perdão, Matteo, esqueci de seu tamanho.
-Vou Parecer uma Girafa saindo da lata.
-Não faz drama, tiramos a capota.
-E facilitamos o trabalho dos pobres trombadinhas.
-Ok, quando estivemos em estrada tiramos, e aproveitaremos a bela noite enluarada.
-Estrada?
-Cala a boca e entra grandão.
-No more words my dear.
Tiramos a capota ao entrarmos nas Paralelas (estrada que leva ao litoral norte e Linha verde), a noite estava realmente especial, a lua parecia um sol branco, uma brisa morna anunciava o final da primavera e gritava que o verão chegaria mais cedo e tentaria nos tostar nos asfalto quente das ruas. Eu estava num estado de leve suspense, ao mesmo tempo que tentava entender o que se passava comigo e descobrir o que queria um homem como aquele, que tinha o mundo conquistado e mostrava em seus olhos um solidão sem dor.
Fomos ate a Vila da Praia do Forte, passamos pelo iluminado Castelo Garcia D’Ávila, primeira Grande residência de nosso Brasil, na verdade um forte para um homem que era donatário de imensas terras do tamanho de países mais de um Pais da Europa. Depois de entrarmos numa vicinal que eu não conhecia passamos uma cancela, de repente o cheiro do mar e barulho de ondas preguiçosas, andamos uns 50 metros e fomos recebidos por um homem simples que nos levou a uma barraca de praia que se encontrava vazia, esta devia pertencer como varias outras na região a um pescador. Era simples mas com um charme rústico, alem de uma mesa simples arrumada com carinho, mais adiante havia umas esteiras com muitas almofadas de e chita e varias velas protegidas por simples protetores. Apesar da simplicidade aquilo era de um charme e elegância impar. Olhei para o Ricardo, que esperava minha reação.
-Isso aqui foi bem planejado, pensado com carinho, obrigado cara, me sinto importante, e saiba que mais uma vez me deixou encantado.
-Achei que gostaria, pensei que de forma super sofisticada não chegaria tão perto de teu coração, aqui é de propriedade de um antigo funcionário e amigo, com alguns telefonemas consegui, e vamos saborear a melhor comida de mar do mundo.
-Posso te dar um abraço?
-Ta esperando o que? Fica a vontade estamos entre amigos.
Corri ate o Ricardo, jogando as sandálias de lado, o abracei da forma mais carinhosa que julguei ser possível, ele me correspondeu, e ao tentar sair do abraço não deixei, precisava enxugar os olhos, era uma tarefa inútil, já que o bater de meu coração denunciava a emoção que me atravessava à alma.
-Poxa Ricardo, nunca ninguém fez estas coisas por mim, obrigado cara.
-Depois do belo poema que ouvi de ti no fim da tarde, e que traduzia o que de certa forma se passa comigo também, merecemos este momento. Vamos deitar um pouco nas esteiras enquanto nos preparam o jantar?
Tirei seu paletó, o fiz sentar e descalcei-lhes os finos sapatos de cromo, sorri pensando que qualquer outro já teria se livrado destes antes de estarmos ali, pois passamos um pedaço de areia fofa. Vendo meu lábio se contrair no sorriso ele me perguntou, fazendo carinho nos meus cabelos e os livrando da prisão de um rabo de cavalo.
-Você é tão certinho que está vestido ainda como se fosse a uma reunião, estamos na praia a mais de 20 minutos, ainda estava em paletó, sapatos e mais. Só você!
-Não zomba de mim garoto! Sou certinho mesmo, mas neste caso sua desconcentração é mais adequada.
-Não prefere ficar só com a camiseta underwear, te deixo as calcas, ou passaremos a noite fazendo sexo entre siris.
Aconchegamo-nos nas almofadas que tinham o perfume das coisas lavadas pelos simples, um leve aroma de lavanda natural, nos foi trazido duas mantas. Eu ao que me lembre nunca estivera mais feliz, único momento comparável foi ao rever o Felipo na porta de nossa antiga escola, mas ali estava eu com um homem que tocava cada fibra do meu ser, que negava estar apaixonado por pensar ser tão distante, tão grande que me julgava não merecedor dele e de suas atenções, quem dirá seu amor. Ate aquele momento e na verdade até muito tempo depois assim pensei. Ele me olhando começou.
-Matteo, me conta sua vida, quero saber de você, seus sonhos e aspirações, como se tornou prostituto, aonde quer chegar.
De imediato contei minha vida, meus babbos, meu sonho em estudar, como cheguei a Salvador, o que passei para criar meu lugar numa cidade grande e desconheci como comecei a alugar meu corpo e sexo, como estavam as coisas no momento agora com meu irmão comigo. Falei que achava que no futuro eu seria um administrador de empresa, casado com uma mulher que teria paciência com meus defeitos, que teria meus filhos batizados por meu irmão já formado em direito e que desejava ainda quem sabe devolver a Itália a meus babbos. Eu falava sem parar como se lendo um romance. O Ricardo não tirava os olhos de mim, e varias vezes durante o relato senti que mexi com suas emoções, sentia sua mão tremer de quando em vez nos cafunés e trancas que ele fazia em meus cabelos, pois tinha cabeça deitada em seu colo, eu brincava com os pelos finos e lisos de suas canelas. Em trechos que procurava sua crença em minhas palavras lhe olhava nos olhos tentando mostrar minha sinceridade, meu coração estava aberto como a ninguém antes. Ricardo:
-Você já tinha me contado muitas coisas antes, mas era a primeira vez que nos víamos, agora sinto seu corpo reagir as suas palavras, vejo o carinho seu com seu irmão, que mais parece seu filho, tamanha sua devoção, vejo o empenho que tem em estudar e forma como leva sua vida. O que me disse hoje Matteo encheu meu coração de afeto, saiba que me senti vaidoso de provocar sentimentos assim num jovem tão bonito, e que demonstra tanta bravura com a vida. Mas tenho o dobro de sua idade, ainda sinto a magoa de minha viuvez, estou errando a mão na criação do Rick, por mais que o de, sinto que é pouco. Quero ser seu amigo e estar sempre contigo, quero continuar sendo seu cliente, seria injusto de outra forma.
Eu recebi essas palavras com uma leve dor, não sendo maior por pensar na impossibilidade de nos dois já de forma anterior, ao mesmo tempo me era difícil crer que havia feito tudo aquilo se não houvesse em seu um ótimo um medo que parecia ao meu. Falei:
-Cado, não estou te pedindo em namoro, sei que não sou digno de você, sou um prostituto,
-Não espero que uma pessoa como você se junte a mim, alem disso qualquer um duvidaria de mim, sou jovem e a sociedade me vê como um sugador, um vampiro, um marginal, na verdade te falei isso e da mesma forma te disse o põema, por não esta entendendo minhas emoções. Mais saiba que não quero nem penso me aproveitar de ti, poso ser puto, mas ganho meu dinheiro de forma honesta, não engano, não roubo ninguém, quero estudar. Me formar e vencer de forma limpa, assim quem sabe um dia te mereça.
-Não fala isso, em nenhum momento pensei que tentava me enganar ou dar-me um golpe, vejo em seus Matteo sua sinceridade, vim de uma família tradicional, mas decadente, fiz toda a minha fortuna com muito trabalho, nesse caminho aprendi a decifrar as pessoas, sei o que elas esperam de mim te disse que estou num momento grave, meu filho parece estar indo por caminhos sem volta, acho que esta se envolvendo com drogas, sou um dos culpados, na duvida de como agir lhe dou mais dinheiro.
-Posso te ajudar de alguma forma? Ricardo antes quero que saiba que me deixa feliz em acreditar em minhas palavras.
-Pensei esses dias, acho que pode, mas depois do que dissemos se torna difícil te pedir isto Queria te fazer uma proposta.
-Faca e peca o que quiser, quero te ajudar, seria uma honra pra mim.
-Queria te propor um arranjo, quero que tente se aproximar do Rick ser seu amigo, e se minhas desconfianças sobre a sexualidade dele estiverem certas, quero que tente ser seu amante, te darei uma boa mesada, pagarei as despesas que tiver com fazer para conseguir estar ao lado dele, pois leva uma vida cara. O que me responde.
Meu coração acabava de levar uma facada e ela dava voltas antes de sir da ferida funda que fez. Mas abri um sorriso e disse:
-Se é para te ajudar, estou pronto.
-Obrigado, desculpe se te parece cruel te pedir isso. Amanha resolvemos o resto. Vou te fazer dois depósitos por mês, te dar um cartão de credito para usar com as despesas e vou te dar um carro. Claro que tudo continuara sendo seu qualquer que seja o resultado.
-Ok, faça o deposito, providencie o cartão, mas acho que o carro pode esperar as coisas começarem a andar. Não se preocupa com meus sentimentos agora, você é pai, eu se tivesse em sua situação faria o mesmo, estou feliz em estar sendo útil a você. E acho que não vai ser difícil me aproximar dele, ele se mostrou bem amigável em nosso primeiro encontro e acho que gostou deste putinho também, kkkkkkkk. Devo ser uma falha genética em sua família. Só preciso que aceite uma clausula em nosso acordo.
-Qual?
-Se sentir que o Rick esta se apaixonando de verdade, eu caio fora, não quero magoar ninguém, não piso em corações
-OK. Por em quanto 10 mil paga?
-Deposite o que acha justo, você sempre foi comigo.
-Falei dez mil dólares a cada quinzena, se fosse você não poria isso em conta, vai chamar a atenção da Receita sobre você.
-Tem razão, me dê em dólares que guardo num cofre de banco, não vou manter isso em casa.
Fomos avisados do jantar. Foi servida uma sopa fria de tomate, depois uma salada de lagosta e em seguida o melhor bobo de camarão que já comi. Na sobremesa uma coisa que parecia um suflê de coco com calda chocolate, ai me ri e Ricardo falou:
-Acho que te conheço o bastante para saber que se lembrou do Felipo.
-Isso mesmo.
-Vou pedir que façam mais e peco que mandem para ele, você não sabe, mas assim que saímos deve ter chegado um 2 kilos de sorvete de Tapioca da sorveteria da Ribeira em sua casa, ele me disse que era o preferido dele, essa hora ele deve estar quietinho no sofá se entupindo de sorvete.
-O fratello é louco por Gelatto, lembro que como não tínhamos dinheiro para comprar quando éramos crianças, então tínhamos que fazer a mais difícil escolhas de nossas vidas. Era escolher entre o sorvete e vender parte da mozzarela de búfala da mamma. Você sabe do meu amor por ele, então ou vendia a minha parte ou trabalhava cuidando de algum jardim para lhe pagar os sorvetes. Então ele te falou da Ribeira? Também gosto da sorveteria e amo o bairro que parece uma cidade do interior, de um charme delicioso, compramos sorvete, o mano compra em caixa, e sentamos no cais, a tarde ali é de uma doçura sem igual, as águas calmas da pequena baia de Itapagipe, o trem passando para Paripe, aquelas mulatas com bundas imensas gritando com crianças que correm sem parar, o samba regado a cerveja e cadenciado em caixa de fósforos, os belos casarões em decadência imponente. Se minha vida permitisse gostaria de ficar velho ali na cidade baixa, então aos Domingos iria ao Senhor do Bonfim, almoçaria nos restaurantes de Mont Serrat e a tarde tomaria sorvete na Ribeira, cumprimentando os vizinhos e falando mal de seus filhos.
-Você deseja o melhor da vida Matteo, tenho certeza que tudo terá ao seu alcance, obrigado por me ajudar. Saiba que tens agora um grande amigo.
-Que fará para se encontrar com o Rick, não quero estar próximo.
-Ou ligo para ele, pois, me deu seu numero, ou se achar melhor faço uma aula em sua academia, não se preocupe pensarei no melhor, deixe comigo, to sendo bem pago.
Saímos dali já era madrugada, desta vez estávamos os dois mais pensativos, tínhamos atitudes que mudariam de uma forma ou de outra nossa relação. Relação que a esta altura não era só cliente/michê, ou de amizade, conseguimos complicar em muitas vezes as coisas entre nós.

4 comentários:

  1. vc se supera,na sua biografia meu querido!!!!amando cada palavra que vc coloca,neste texto maravilhoso que vc escreve,tao bem valeu!!!!

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  2. Matteo meu Galego, deixei o Orkut pra seguir seu blog

    David

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  3. David, meu querido. Delicia ter senmpre vc por aqui cara.

    Bacci

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