Eu estava na sala de espera do hospital aguardando a saída da Estelita. Pensava em tudo que estava me ocorrendo, a doença da mamma, a internação da Estelita, o projeto de Angola, a tentativa de manter o segredo da doença da mamma para o Lipo me deixava constrangido, me sentia como traidor de mio fratellino. Mesmo assim não me sentia com forças para contar-lhe e encarar mais um em pânico na família. Afinal a alegria e leveza do Lipo eram das poucas coisas que me mantinha erguido além do amparo e do amor do Cado. Pensava em tudo isso quando do meu lado via o sobrinho da Estelita digitando sem parar num notebook. O garoto parecia se divertir alheio a tudo que o cercava. Perguntei-lhe o que fazia.
-Estou postando uma historia numa comunidade do Orkut.
-Como consegue no meio disso que acontece. Prestar tanta atenção a isso?
-Matteo, aqui fiz amigos e quando estou com eles me sinto num mundo mais aconchegante. Você devia tentar, parece preocupado.
-Não sei se conseguiria me expor dessa forma, ou mesmo fazer amigos virtuais. Não sou muito chegado à web.
-Em primeiro lugar não precisa se expor. Pode usar um nickname, e mudar algumas coisas que te localizem. Além disso, é bem divertido sim, não penso que por eu ser adolescente, me divirto mais ou menos que qualquer um. Amigos são amigos estejam onde estiverem. Às vezes estou zangado ou com problemas e sempre tenho na web alguém para me ouvir. Você tem uma historia bem interessante, aposto que seu conto iria fazer uma galera parar pra ler.
-Engraçado! Adoro escrever e nunca tinha pensado na web da forma que você está falando. Uso para trabalho, resolver assuntos de forma rápida com ajudantes. Mas sou muito mais uma boa leitura. Além disso, tenho o problema da exposição. Poderia me trazer problemas.
-Larga de ser bobo, não precisa mostrar sua cara pra tudo mundo ou pra ninguém. Experimenta meu rei e você vai ver como é livre poder falar de suas coisas sem medo de julgamentos.
-Sei não se não seria julgado, tenho passagens que você não conhece na minha vida. As pessoas gostam muito de julgar a vida alheia.
-Você fez algo tão terrível que entre 20 milhões de pessoas não ache gente que goste de você?
-Não terrível, mas, diferente do geral. Vou pensar no que me disse tenho tido muita insônia ultimamente, e estou sempre viajando, ás vezes me sinto só de verdade. Valeu moleque!
À noite, depois de deixar a Estelita em seu apartamento, fui a pé para casa. Era bastante próximo. Deixei o carro com o Lipo que planejava ir para uma balada com uma gatinha nova e queria impressioná-la com meu carro. Ele falava que meu carro, tinha cara de carro macho, sempre sujinho por fora e limpo por dentro. Depois de uma bela ducha, estava na biblioteca sem achar nada que me fizesse ter vontade de ler. O Cado foi dormir cedo, iria viajar logo no começo do dia, no seu retorno planejávamos ir àToscana de férias. Mas antes queria ter certeza do restabelecimento da Estelita, e de por o conselho a par dos meus planos da África. Esse projeto estava me entusiasmando. Se tudo desse certo compraríamos em conjunto com o consorcio um belo terreno num novo bairro nobre e iniciaríamos a construção de um condomínio com varias torres residenciais. Eu planejava investir pessoalmente em tal projeto, iria por uma boa grana nas obras e seria sócio independente do investimento. Isso iria me dar mais autoridade sobre o projeto e convenceria o conselho de forma mais rápida. Estava ansioso em viajar a Toscana com o Cado a Toscana, seria uma viagem curta, mas seria bom namorar e curtir meu amado nas belas paisagens toscanas, de quebra veria a mamma e o Babbo, saberia pessoalmente como andavam os resultados dos últimos exames dela.
Como não tinha nada para fazer e sem livros que me interessassem peguei meu notebook e entrei no Orkut, acabei fazendo um perfil com a ajuda via online de um grande amigo, que nunca falei aqui por ele ter me pedido, dizendo que não gostaria de aparecer na minha historia, já bastava o que participa de minha vida. Seguindo os conselhos desse amigo, usei como base para meu perfil, dados de outro amigo, fiz um novo mail e transferi todos os arquivos de trabalho para um site em nuvem. Fui avisado por ele de pessoas que sempre metem via MSN vírus em seu computador que conseguem tirar dados. Como eu tinha um notebook extra, acabei usando este para iniciar uma aventura que me faria muito mais bem que jamais imaginei. Entrei numa comunidade de contos eróticos gays. Gostei de alguns contos que li e iniciei no Word a contar minha historia. Apesar dos avisos dos amigos, não vi muito sentido em fazer uma vida completamente fake. Usei meu nome de guerra da época de prostituto, omitindo assim meu nome real. Troquei os nomes dos principais atores de minha vida. Comecei e ainda me lembro contando a minha primeira transa com o Lipo. Esta na minha cabeça e no meu coração é a razão de toda minha história, a mais importante delas, foi ai que tudo começou. O amor entre eu e mio fratellino ainda é a mola mestra de minha vida. No meio do texto que digitei rápido e cheio de erros ortográficos, percebi que estava fazendo uma espécie de cartase, como se num divã de psicanálise estivesse. Rememorar aqueles momentos me foi de certa forma libertador, rememorava emoções e escrevia livre de todos os medos e constrangimentos que uma historia incestuosa possa provocar em seus atores. Postei o inicio quando o dia começava a raiar. Dormir apenas 3 horas e voltei a minha vida de sempre, para mais um dia de academia, corrida, vôlei e trabalho no escritório. Voltei mais cedo do trabalho, havia dormido pouco e depois do almoço me sentia exausto. Cheguei às 16 horas em casa e dormir por mais duas horas. Esperei o Lipo para a refeição da noite e contei-lhe que trocando nossos nomes havia postado nossa historia. Perguntei-lhe se ele se incomodava com isso, e fui surpreendido com ele o que me respondeu.
-Grandotte, desde que nos proteja, faz o que te deixa feliz. Mas te aconselho a falar com O Cado se pretende continuar com isso.
-Sei não se vou continuar. Mais tarde dou uma olhada na comunidade e vejo se o povo curtiu, ou mesmo se alguém leu. Não estou a fim de ficar explicando nossos motivos a desconhecidos. Se gostarem e forem mais abertos, quem sabe continuo. Senti-me muito bem escrevendo sobre a gente sabe Lipo? Senti-me livre. Esqueci dos problemas aqui de fora.
-Que bom fratello, se te faz bem to feliz.
-Como foi com a gata de ontem?
-Show de bola, gata muito massa. Vamos sair daqui a pouco. Tô a fim de dar uns pega nela de novo. A convidei para o ensaio do Olodum. Quer vir conosco?
-E ficar de vela?
-Num ensaio do Olodum? O que mais vai te aparecer é gata pra curtir.
-Tô afim não maninho. Vou ler um pouco e dormir cedo.
Voltei à biblioteca, abri o computador e me surpreendi com o que vi no site onde postei. Várias pessoas haviam lido o conto e curtido muito a historia. Sem preconceitos, elogiando a forma como eu a escrevi. Falavam do tesão que sentiram ao ler e das surpresas nos textos. E mais! M incentivam e pediam com veemência que eu continuasse.
Desses primeiros leitores, fiquei amigo de muitos. Entre eles o Yago o meu Lobo de Ray Ban, o mais terno dos companheiros de madrugada. O Lê, meu Lezinho querido safado e bem humorado. O João, inteligente, passional, ótimo papo, será um grande homem quando pronto. O W, meu Sol, tem o mais belos dos sorrisos, sem ele o blog não existiria, suas palavras sempre doces escondem um coração a procura de tempestades em sua alma gentil. O Rodrigo meu psicólogo taradinho e companheiro fiel. O Roger meu lequinho amado, sempre carinhoso e terno, com ele me torno o moleque que não tive a chance de ser. O David companheirão de todas as horas e colaborador no blog. O Pedro, sempre doce, amável e fiel amigo, neste confio a qualquer momento. O Kiko, carinhoso tarado que só ele! Nunca falei com ninguém mais animado a uma foda e mesmo assim atento a ajudar um amigo. O Will, amigão sempre. O Will 2.6, sempre a meu lado desde o primeiro post, nele também sei que tenho um bom amigo. O Xandi, homem de verdade, senhor de suas idéias e disposto a discutir com civilidade sobre todos os assuntos, um grande homem. Também o Lipee, o Dil, o Flavio, o Ricardo, o Alisson, o Galapagos,o Aaron,o Galem, garotinho conversador e divertido do sul do país, a Juliana, unica donna entre meus contatos. Estes sempre que podem entram no kut e me deixam um beijo carinhoso, mesmo eu estando sumido como ando atualmente. Enfim toda minha lista de amigos (entre novos e antigos leitores) Isso só para citar os com que mantenho contato até hoje e se tornaram parte de minha vida, Verdadeiros amigos a quem contei e ainda hoje troco segredos, com quem discuti, brinquei, sorri e chorei por diversas vezes. Com estes posso sempre me abrir e contar quando entro na web a procura de uma fuga de problemas, buscando um sorriso e ombro amigo. Muito mais pessoas vieram depois disso.
Como meu amigo preveniu fui invadido por hackers diversas vezes. Acreditando que todos eram amigos e buscavam da mesma forma que eu pessoas para trocar idéias, contar novidades, ajudar e ser ajudado. Por diversas vezes tive que trocar de MSN, por isso peço perdão se esqueci de alguém com quem já troquei confidencias e hoje me esqueço perdido na multidão de nomes e sorrisos que vi. Dos corações que visitei e fui hospede por algum tempo, lembro de todos com um carinho gigante. Uma vez tive que excluir minha pagina Orkut, e com isso acabei eliminando o conto-historia que eu postava com tanto carinho. Surpreendi-me e me emocionei quando entrando na comunidade achei um tópico que buscava a mim e minha historia. refiz o atual perfil, por horas tive que copiar e novamente postar tudo que inadvertidamente apaguei. Mas fiz tudo com extremo carinho. Mais que os nomes que citei, havia muitos mais, que não se apresentavam, mas estavam sempre lá esperando o post do dia. Havia me tornado um viciado nos novos amigos. Entre os posts falávamos sobre o que acabava de contar, riamos juntos trocando anedotas e brincadeiras sempre carinhosas. O meu post se tornou uma reunião de excelentes companheiros leitores.
Um belo dia a comunidade em que eu postava foi excluída. Virou um reboliço! Não só meus leitores, como milhares de outros ficaram de repente sem suas horas de lazer. Alguns escritores se juntaram e tentaram refazer uma nova comunidade com o mesmo nome. Participei deste recomeço. Mas mais tarde resolvi fazer o meu próprio blog. Tinha medo de algo parecido voltar a acontecer, e de novo acabar perdendo contatos com pessoas que se tornaram diárias em minha vida.
No post da comunidade eu tentava alem de falar sobre minha vida, mostrar e expor minhas opiniões sobre temas variados. Queria falar mais e sobre mais coisas. Assim faço no blog.
Sem todos os amigos que fiz na web minha vida pessoal seria mais pobre. Por inúmeras vezes busquei conforto neles. A maioria nem sabia o tormento intimo que eu passava com a doença da mamma, e quando souberam vivaram meus fieis escudeiros. Tive sorte na web, fiz bons amigos. Aqui falamos sacanagens, falamos sério. Discutimos nossos problemas cotidianos. Às vezes até brigamos. Mas gostaria de dizer a todos o quanto os tenho em carinho, o quanto devo a cada um de vocês as belos momentos que me dão. Vocês de certa forma sabem mais de mim que muitos amigos que cruzo diariamente em minha vida, no vôlei, em festas, em minha própria casa. Sempre estou de coração aberto aqui. Sempre sou eu mesmo sem frescuras. Com meu jeito às vezes tosco, às vezes gentil de falar. Alguns só conhecem a parte de meu rosto que exponho no meu MSN, outros nunca vi uma foto. Mas isso pouco importa. Quando falamos aqui falamos com os gritos del cuore. Mesmo às vezes querendo disfarçar uma agrura ou outra já nos reconhecemos como se falássemos ao pé do ouvido um do outro.
Obrigado amigos, amo vocês todos. Cada vez que nos falamos meu dia ou noite se torna melhor. Deixei por alguns momentos meu luto para deixar estas palavras com vocês. Continuarei contando aqui minhas aventuras, agora as mais recentes. Espero que curtam, esta é a forma que posso demonstrar o quanto os estimo.