9 de nov. de 2010

NSP CAP 41..............O Medo e Eu

O Medo e Eu


Resolvi escrever este capitulo após ler vários escárnios ou conselhos depois que postei o cap. 40 onde falo de meu medinho de assombração.  Ma che cazzo! Será que não posso ter um medinho?
Pois digo mais. Este não é meu único medo. Tive vários minha vida toda. Voc6es achavam que eu era uma espécie de Superman? Erraram. Tenho medos sim e muitos. Quando falo de minha bravura ou coragem é justamente por senti-lo, afinal não seria bravo ou corajoso se não tivesse o medo, a paura e mesmo a fobia ao meu lado. Sabe meus amigos? O medo foi e é meu companheiro constante. É ele que me impulsiona para frente e para cima. Sem esse monstrinho talvez ainda fosse um lavrador na fronteira da Bahia.  Vou falar sobre eles.
Tive medos básicos e/ou complexos em cada idade ou faixa etária que vivi.  Lembro-me de quando minha vida começou, ou seja, quando o Lipo nasceu. Pode parecer tonteira, mas acho que me lembro quando vi o Lipo à primeira vez. Realmente não sei se criei isso de forma poética em minha mente ou se realmente me lembro de tê-lo visto pela prima volta logo depois do banho, depois que foi expulso pela Mamma de dentro de si. Então senti meu primeiro medo. Medo de não poder protegê-lo, medo de não ser capaz ou grande o bastante para lhe segurar as mãos e tê-lo ao meu lado. Desde que me lembro como pessoa me lembro de querer todo o bem do mundo pro mio fratello. É engraçado lembrar hoje o tanto de gente que já apanhou por apenas mexer com ele no colégio quando éramos crianças. Lembro que o único inimigo maior que eu fui vitima de uma armadilha cuidadosamente armada por mim. No caminho do sitio onde ele morava, passeia a noite ou boa parte dela cavando um buraco para ele cair. E pasmem! Eu tinha no máximo 11 anos. Enfrentei a escuridão, o medo da bronca dos babbos, e tudo para me vingar de um sujeitinho que achou que podia bater no mio fratello e que eu mesmo não podia com ele. Resultado, depois que o moleque caiu no buraco enchi a cabeça dele de cascudo, depois tratei de dar um bom chute no saco quando nos vimos depois. Nunca mais ele mexeu conosco.
Antes desse medo, o grande terror que o mundo passava era a fome na Etiópia. Imagens horríveis vi pela televisão em preto e branco dos vizinhos. Miei babbos falavam que fugiam da miséria e da fome na Itália. A mim causava arrepios pensar que eu ou os meus poderiam ficar parecidos com aquelas figuras terrivelmente esquálidas vista com horror na TV em matizes cinza. Então ia ao campo com o babbo, tinha uma energia louca para a lavoura e não me queixava do trabalho duro do arado, da limpeza e colheita. Pra mim aquilo era nossa comida, nosso sustento que nos livrava de nos tornamos esqueletos de olhos esbugalhados. Outro medo que me levou adiante foi o pavor da ignorância. Saber prematuramente que ela é a grande causa dos males do mundo, da miséria e da pobreza me fizeram estudar sempre com muito afinco, me fizeram lançar-me numa busca desenfreado pelo saber. 
Minha ida para Salvador foi pelo medo de me ver e assistir mio fratellino envelhecer numa labuta estafante e mal remunerada do campo. Tinha medo de não conhecer o mundo que me recebia e eu considerava e considero fascinante em sua diversidade de povos, costumes e saberes. E quanto mais eu estudava, mais queria saber, mais queria conhecer, mais eu queria proporcionar aos meus babbos e o meu amado fratello. E na pequena biblioteca de livros muitos usados e pela tela de um velho computador doado a escola eu descobria a diversidade do mundo. Descobria que quanto mais eu soubesse, mais haveria para saber. Descobri junto o amor pela arte, entrando de modo lento via internet em museus do mundo todo. E ficava maravilhado com a beleza que o homem é capaz de fazer com suas mãos, seu cérebro, sua vontade de render honras a beleza, a natureza e desejo infinito de expressão. Descobri cedo também que eu falava duas línguas. Que era filho de duas pátrias e isso me dava vontade de conhecer todas as línguas do mundo. Dava-me sede de entender a Torre de Babel em que vivemos. E fiz tudo para aprender as línguas mais faladas. Desde cuidar de jardins a usar meu corpo como moeda de troca.
Quando cheguei a Salvador e vi o imenso monstro da cidade grande, meu coração ficou aos saltos, num misto de medo e bravura, de terror em ver tanta gente junta num só lugar, afinal acabava de chegar de uma cidade que caberia inteira numa simples rua da imensa metrópole. E essa metrópole vi que era dividida em cidade alta e baixa, e mais que isso, em miséria e luxo, em diversão e sofrimento, em negros e brancos, em empregados e patões. E tive medo de nessa cidade me perder, tive horror em não vencer ali e não dar a mio fratello a grande chance que tive. Tive medo de não poder mandar dinheiro para os meus babbos substituindo o trabalho que meus braços faziam no campo. E se eu falhasse o que seria de minha família? Como estudaria mio fratello? Quem pagaria os remédios que meus babbos não conseguissem em farmácia publica? Como encarar a cidade inteira num retorno cheio de vergonha e fracasso. Como consolar o coração de mio fratellino que enchi de esperanças e sonhos. Não! eu não poderia perder. Venceria de forma honesta como prometi a mio vecchio babbo, meu companheiro de labuta no sol forte, meu amigo de puteiro. O Homem que me ensinou a ser homem, a Donna que me ensinou o que é o dever e a famiglia, o mano querido que me ensinou o que era amar outra pessoa às vezes mais que a si mesmo. Todos eles mereciam e merecem o melhor de mim. Por eles eu venceria todos meus medos, mesmo estando constantemente sendo visitado por eles em sonhos que me faziam acordar suado e gritando.  Foi o medo e não coragem insana que me trouxe até onde cheguei. Afinal coragem é apenas o nome que damos ao medo vencido.
Depois que entrei na vida de prostituto descobri novos medos. O medo de falhar como homem, o medo de não agradar aos clientes. Então cuidei mais ainda daquilo que de uma forma ou de outra sempre foi meu meio de existência até ali. Cuidei de meu corpo e minha saúde, pois além de agradar precisava estar sempre saudável. Uma noite doente significava dinheiro de menos, significava que corria o risco de faltar algo aos meus. Percebi o quanto era caro morar numa cidade grande e tive medo de me faltar recursos para trazer mio fratello. Então juntei dinheiro dos modos mais loucos possíveis. Usava roupas emprestadas, topava qualquer cliente que me trouxesse lucro. No meio disso tudo não largava meu objetivo maior que era estudar e ser alguém com um diploma na mão. Aquele canudo mágico que me tornaria honesto e útil aos olhos da sociedade. Com ele eu seria o homem que seria motivo de orgulho para minha mamma e meu babbo. Tornaria também mio fratello um advogado, seu grande sonho.
No meio dessa guerra de medos e coragens, de enfrentamentos constantes sou apresentado ao maior de todos os horrores. O horror de amar sozinho, de não ser correspondido, de me sentir menos que meu objeto de amor. Esse medo me foi apresentado assim que cruzei com os belos olhos verdes do Cado. Depois de uma noite em que pela primeira vez na vida adulta fui eu mesmo sem armaduras, de sorriso desarmado e limpo sem procura de conquista e seduções. Este homem me apresentou o amor pelo outro, pelo estranho, pelo novo. Até onde eu conhecia, este era um sentimento fraternal. O único homem ou corpo alheio que de verdade havia movido meus desejos era de meu próprio irmão, e este era um amor seguro, pacato, com um posto eterno no mio cuore, Nasci com ele, meu corpo morrera com ele e minha alma vivera para sempre com ele. O Amor pelo Cado me era estranho, era um amor por um ser desconhecido, um amor que devia ser conquistado a cada dia em uma nova batalha, um amor que pode acabar por um erro bobo. Amor que precisa de ração diária, acalentos mil, olhares e cumplicidade sempre postas à prova. Não era como o amor do mio fratello que sempre julguei ser parte de minhas células. O Amor pelo Cado foi uma semente atirada de longe, que nasceu com força numa muralha criada por mim tentando me proteger dos que eu julgava serem os outros. Era um cérebro desconhecido, ali eu teria que descobrir seus caminhos, que desbravar cada ligação de seus neurônios. Então temi não estar a sua altura. A altura de um capitão de indústria de família nobre. Logo eu um simples lavrador que alugava seu corpo e vendia pedacinhos de sua alma para atingir objetivos por muitos considerados inalcançáveis. E esse medo também enfrentei. Lutei com bravura para ser bom, para lhe ser leal, para ser digno de cada afago seu. Para lhe devolver com um sorriso largo cada carinho seu Numa desilusão depois de confessar-lhe meu amor, aceitei ser namorado daquele que mais tarde seria meu enteado. Tive paciência oriental. Aguentei calado minha dor e humilhação. Mas ele se apercebeu de seu erro e me deu a mão de volta chamando meu coração para junto dele.
Lutei também, para estar à altura de seu intelecto, de seu saber. Aprendi a amar e admirar este homem, seu caráter, sua vida e seu trabalho. Lutei para ser páreo para sua confiança. Estudei como um autista sem pensar em sono e cansaço. E esse medo também venci. Venci o temor de enfrentar os tubarões a que fui lançado quando recém formado fui posto a por em pratica ideais de um jovem cheio de sonhos e alvo de invejas e ciúmes de antigos colaboradores. Hoje sou sócio desta empresa que com trabalho duro ajudei a crescer formidavelmente. Com meu olhar observador aprendi a ter muitos olhos e enxergar saídas onde ninguém via nada a não ser desastre. Fui ousado, pois já havia tornado todos os meus temores em espécie de companheiros de guerra que me faziam vencer batalha após batalha.
Todos meus temores se juntaram quando mio fratello, que eu mesmo tinha tirado do conforto tranqüilo do lar para fazer dele um homem de leis. Na alegria do reencontro aceitei que ele se alugasse como eu mesmo fazia. No calor de tê-lo junto a mim finalmente depois de tanta solidão e luta, esqueci que ele podia se perder no labirinto que me achei. E quase o perdi para as drogas. Tive o Cado como amigo-pai-irmão-amante. Chorei desesperadamente a separação de minha metade melhor, de mio fratello querido. Com ele chorei suas dores, mas castiguei seus erros e me puni pelos meus. E juntos vencemos também esse horror.
Por ultimo e o mais doloroso dos medos. Não o venci, pois ninguém o vence, faz parte de nossa condição humana. A morte. Vi mia mamma querida morrer a cada do dia enquanto nos sorria e fingia não sentir a imensas dores causadas pelo câncer que comia o corpo. Não o venci, mas aprendi a dar mais valor a cada segundo de minha vida. Aprendi o quão pequena foi minha vitória sobre bem materiais. Mas ao menos estive junto com os meus. Depois de anos fora de casa, tive oportunidade de voltar a conviver com minha famiglia, de sentir de novo o carinho e o calor do lar. Tivemos belos momentos nestes últimos e poucos meses. Perdoamos nossos erros, sorrimos de nossas vitórias. Eu, o babbo e Lipo estavamos ao redor dela em seus ultimos momentos. Cercamos com nosso carinho e amor aquela que foi e será sempre a cola que nos unirá para todo o sempre. De certa forma a mamma venceu sim a morte. Ao menos enquanto em nossos corações ela for a rainha de sempre. Minha mamma querida foi a unica mulher que amei nesta vida. Minha famiglia agora é completamente masculina, meus amores e afetos todos homens. Mas lembro que dias antes antes de morrer a mamma falou por telefone com a Estelita. Cheia de risos como sempre falaram, brincando sobre meus defeitos e os do Lipo. Lhe passou várias recomendações como se fosse numa longa viagem. Agradeceu a Estelita por nos ter adotado em suo cuore. Agora tenho uma mainha baiana que é amada e representa la mia mamma querida. 
Desculpem o que pode parecer pretensioso, mas os que conhecem minha historia sabem tudo ou quase tudo que enfrentei. Por isso digo a vocês. Não tenham medo do medo. Olhem nos olhos dele. Seja bravo e passe como um trator por cima dele.
Já venci muitos medos, outros aparecerão. Alguns nem ligo em manter. Medo de fantasmas? Permito-me. kkkkkk Não me atrapalham a viver. Na minha baianidade acredito em tudo, ou ao menos respeito tudo. Forças da natureza existem, somos parte dela, assistimos todos os dias um momento de fúria da natureza e sabemos que basta um sopro seu para que entremos outra vez na fila de uma nova reencarnação. Ah! Deixa-me esclarecer uma coisa a meus leitores que alguns ainda não perceberam, pois falo de vez em quando não crer em Deus. O caso é que não creio em religiões sistemáticas, afinal elas são feitas e codificadas por homens, não creio que Deus seja regra. Penso em Deus como a força dentro de nós, como nossa centelha divina, nosso bem e nosso mal e a ele nos dirigimos quando fazemos o bem, dele nos afastamos quando desejamos ou fazemos o mal. Regras morais mudam em cada sociedade, culturas são cíclicas, mas a raiz do bem e do mal está em nós mesmo. Somos todos pedacinhos de Deus. De novo digo, sou baiano, creio em deuses, orixás, duendes, leprechaus, sacis, gnomos e fada. Creio que são espíritos que cuidam do caos criativo que é grande força vital da Natureza, o lado feminino do Deus, que mais interessado em nos ver evoluir para perto dele não dá a mínima para punir ou gratificar e pequenas atitudes, pois isso são conseqüências naturais de nossos atos. Como posso pensar que um Deus poderosíssimo pode se ocupar com quem eu trepo sem mal causar a ninguém? Como posso pensar que Deus brinca com nossas vias como se na frente de videogame estivesse a se divertir? Não galera Deus nos ama e quer que estejamos junto dele com nossas individualidades. Ama-nos como amamos nossos filhos com defeitos e razões. Só quer o nosso bem. Se ele inventou o medo foi para nos proteger e nos fazer vencê-los. Façamos sua vontade e os vençamos.

7 comentários:

  1. "Coragem é apenas o nome que damos ao medo vencido."

    Nao sei nem como comentar esse capitulo cara.
    Quebrou a perna da gnt q te zuou, rs.
    Parabens mais uma vez e obrigado por essa liçao. Essa eu levo pelo resto da vida.

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  2. puta que pariu brother...sei q serei redundante...mas qndo axamos q tu já mandou td q podia tu se supera...bjão e saudades...ve se entra no msn hein...rss
    bjos do Will

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  3. Por isso que nunca deixarei de ler vc. Cada post é como combustível para me fortalecer, obrigado por aparecer em minha vida. Um grande abraço meu amigo virtual. OBRIGADO vc não tem noção de quanto me ajuda.

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  4. Poxa Amici que bom que vcs gostaram tanto! E eu que pensei que apenas tava defedendo meu modo de ver as coisas!

    Bacci!

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  5. Matteo vc é demais adorei o conto.. e to curiosos pra saber qual foi a reação do lipe quando descobriu da pora na pasta.. abraços

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  6. Matheus acabo de ler “O MEDO E EU” hoje 17/11/2010 às 21h05m, simplesmente sem palavras, só posso dizer agora sem pensar sem tentar ser coerente, uma coisa que já te disse algumas vezes pelo msn e não vou deixar de disser nunca. Matheus te respeito não pelas conquistas materiais e sim pelo ser humano que você é. Cara depois penso e escrevo só queria deixar registrado a minha admiração por você mais uma vez.
    Abraço
    Leandro

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  7. sera que sobrou 1 pouco deste molho???
    adorei oingrediente principal kkkkkk

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