12 de set. de 2010

NSP Cap 35 Fim de Jogo

A Estelita me ligou de casa me dando uma bronca por inventar um jantar sofisticado de ultima hora. Mas estou acostumado com os pitis da Estelita, ouvi tudo caladinho e mandei um belo buquê de Girassóis pra ela.  Nada no mundo acalma a fúria feminina como um belo buquê e nada acalma a Estelita tanto quanto belos e imensos girassóis. Aproveitei para mandar vários arranjos de Copos de leite, antúrios e orquídeas, flores com ares mais masculinos para minha casa também. Queria que o jantar pra vagaba do Ricardo fosse impecável. Sai do escritório mais cedo e fui a um Spa, uma boa massagem e uma sauna iriam me deixar tinindo e preparado para a noite. E tem mais! Se queres ser o vilão, que o seja de forma elegante. Esteja chic e belo. Nada amedronta mais o inimigo que a beleza e a segurança. Cheguei em casa a tempo de preparar o Lipo para o que viria à noite, este achou que eu estava sendo vilão com o Cado. Mas como sempre digo! Sou calminho, bonzinho e gente fina, mas não pisa nos meus calos nem mexe no que é meu.
30 minutos antes da hora marcada para o jantar o Ricardo me liga pra avisar que chegaria na hora, pedi que atrasasse 15 minutos. Pois preferia que os convivas estivessem já em casa quando eles chegassem. O Cado sempre foi um relógio suíço. Diferentemente da maioria dos baianos que nunca dão muita bola a horas exatas, exceto quando sua confirmação de tempo vem seguido do indefectível e divertido “hora de relógio” O Cado sempre é pontual. Quanto ao nosso “hora de relógio” funciona assim. Se um baiano diz, daqui a duas horas estarei com você.  Pode sentar e esperar por mais uma hora ao menos, me se ele diz, em duas horas de relógio estarei ai, de repente o cara vira um inglês e estará na hora exata em que disse. Idiossincrasias baianas! Diferenciamos o nosso tempo pessoal do tempo contado por uma maquina.
A paquera do Lipo foi a primeira a chegar. Era uma loirinha, baixinha e muito graciosa, devia ser nova conquista, pois eu não a conhecia. Mostrei-lhe a casa e ficamos na cobertura conversando e admirando a paisagem até a chegada do Lipo. Que vestido na roupa que lhe sugeri estava muito gato. Logo depois chega um casal de amigos gays, um consultor de empresas e arquiteto que estava no auge do sucesso no momento. Este elogiou a decoração e se surpreendeu quando soube que eu e minha secretaria pessoal havíamos escolhidos detalhes do décor, e que esta havia sido finalizada com artigos trazidos de diversas viagens e na cobertura com meus próprios equipamentos esportivos. Inclusive minha biblioteca era verdadeira, frutos de livros que li e que leria, de coleções que garimpei e livros que sonhei em ler. Não comprada pronta como em muitos casos são feitas as atuais bibliotecas domésticas. Quase ao mesmo tempo que este casal um outro casal, desta vez americanos, que trabalhavam no consulado e por razões de trabalho acabamos por ficar amigos sociais, ao menos o bastante para serem convidados no mesmo dia para um jantar.
Na exata hora marcada chega o Ricardo acompanhado de minha algoz e futura vitima. Devo admitir que faziam belíssimo casal. Mas isso não me incomodou nem um pouco. Pra mim casal bonito  mesmo era eu e ele.  Ele estava em trajes esportes, com uma camisa verde clara que dava a seus olhos uma profundidade incrível, ela num tubinho preto e elegante, sem muitas jóias. Ela me elogiou a roupa, tentando de ser forma ser simpática a quem pensava ser o principal sócio e colaborador do Ricardo. Fui gentilíssimo com a Ana, este era o nome dela. Elogiei os belos pingentes Tiffannys que trazia nas orelhas. O Ricardo depois de servido de um copo de uísque.  Levou-me num ponto retirado, me avisando que ficaria por demais chocado se eu aprontasse algo.
-Calma meu Cado! Tô de boa! Me arrumei pra você. Não vai dizer que teu garoto está bonito?
-É este meu medo! Conheço-te o bastante para saber que se apura nos modos e roupas quando está para desferir um golpe mortal em alguém.
-Vem cá Ricardo. Você tá falando demais. Incomodado demais. Arisco demais. Tá com rabo preso? Tenho motivos pra jogar a garota lá embaixo?
-De jeito nenhum! Matteo você melhor que ninguém, sabe quem é dono de meu coração, nosso sentimento está guardado em cofre seguro.
-Sei. O Banco Central de Fortaleza pensava a mesma coisa daquela dinheirama que de lá tiraram.
-Ah! Para meu garoto! Tu sabes que sou seu. Vamos lá ao seu quarto que quero dar um beijo no gato da festa!
-Elogio demais!
Mas como nunca resistir a seus belos olhos verdes, em segundos estava na minha suíte, preso nos braços que são minha segurança, sentindo a outra metade de mio cuore se juntar no peito dele.
Voltamos à sala principal onde recebia meus convidados e cercava Ana (cachorra, ordinária, vilã dos infernos) com atenções e mimos. Por um minuto passou na minha cabeça cenas de uma novela recente onde Cássia Kiss fazia uma ciumenta mulher de Antônio Fagundes que tirava seus encalços do caminho usando um fortíssimo veneno guardado num anel. Sorri sozinho de minha bobagem. Sabia que estava supervalorizando aquele momento para tentar tirar de minha cabeça o alerta que a todo o momento anunciava perigo próximo. Sabia que não era aquela garota que de certo modo passaria fácil por cima dela como um trator em cima de uma formiga. Minha preocupação era a mamma. Mio cuore estava apertado pressentindo algo terrível.
Meus pensamentos foram interrompidos pela chegada do Marcelo que trouxe consigo uma linda morena conhecida minha de praia. Era eximia jogadora de vôlei e tinha um corpo de deixar as ondas do mar correndo baixo à sua passagem. Marcelo estava vestido de forma muito elegante, como um leve blazer de verão e uma camiseta de cor única sem estampa, trazia no pulso o ultimo presente de nova conquista, uma coroa dona de uma confecção poderosa na cidade e que lhe estava bancando ultimamente. Parecia ser uma relação promissora para ele, inclusive eu já o havia aconselhado a sossegar o facho com esta Donna.
Depois dos cumprimentos gerais, onde o apresentei como antigo colega de faculdade. Depois veio ele exibir o belo Tag Hauer que trazia no pulso, dizendo ser igual ao meu.
-Larga de ser bobo Marcelo, pára de me copiar, você é bonito demais para precisar copiar alguém.
-Você é meu herói Grande, quando crescer vou ser igualzinho a você.
-Então só na próxima encarnação agora. Pois da altura que você está não passa mais.    Disse eu brincando com ele e lhe dando um abraço carinhoso.
No mesmo abraço lhe confirmei nossos planos. Ele me disse, olhando rápido para a Ana.
-Gata! O Cado não brinca não cara. Gatassa!
-Tá bom! Você vai ficar ai elogiando a sujeita ou vai trabalhar?
-Nervosinho em Grande? Te culpo não a ciumeira. Mas te digo uma coisa. Sou mais você. Rsrsrsr
-Que ciumeira? Também sou mais eu. Mas não custa nada evitar o perigo. Pra isso deixo os alarmes ligados. Vamos lá que vou te por em conversa com ela e levar sua acompanhante para um outro grupo. Por falar nisso, parabéns hein!  Tá pegando ou veio de amiguinha?
-Amiguinha. Mas planejo ter uma sobremesa depois disso aqui.
-Safado!   Disse eu lhe dando um tapa na deliciosa bunda. E continuei. Por falar nisso eles são americanos. How about your english? (Como vai seu inglês?)
-Pretty good. Don’t worry. Easy baby!  (Muito bem. Não se preocupe. Calma!)
Na apresentação o Marcelo foi impecável, jovial e sorridente. Ana se mostrou simpática ao receber um elogio que o Marcelo fez as suas altíssimas e caríssimas sandálias Salvatore Ferragamo. Uma mulher que consegue se equilibrar em cima daquilo, não deve ser considerada uma opositora menor. Mas o Cello foi certeiro. Não há mulher que resista a um homem com atenção a detalhes. No mínimo ela se sente envaidecida e lisonjeada.
Deixei o grupo e circulei pelo salão entretendo os convidados. Olhei para o outro lado e via o Lipo contando suas estórias.  Nisso ele é ótimo, fazia todos rirem com suas palhaçadas e contos de advogados. Nunca vi ninguém contar uma estória como o Lipo,ele faz cara, jeito de andar, muda a voz, imita trejeitos. Um palhaço.
Como magnetizado por meu olhar sobre ele, imediatamente ele virou seus olhos em minha direção. Fez uma mesura à sua platéia e veio até onde eu estava. Me disse sério.
-Vem aqui comigo.
O Segui até segui quarto de forma discreta. E ele começa.
-Que palhaçada é esta que você está armando? Vai continuar?
-Não estou entendo Lipo.
-Você me disse que chamou o Cello para uma “ trappa”  com Ana (armadilha).  Por que não resolve isso direto com o Cado? Ou você mesmo da forma que sempre fez? Levando na boa e tirando as garotas com mais charme e menos maldade?
-Você não está entendendo Lipo. Amanhã eu te explico.
-Amanhã Não você vai me explicar agora! A mim ou ao Ricardo.
-Você não ousaria?
-Duvida? Acha que assistirei tu fazer uma besteira dessa e não fazer nada? Não vê que pode estragar uma historia e um amor que você preza tanto? Ah Fratello! Você pode me dar a surra do século, mas deixar  você estragar sua vida, deixo não.
Poucas vezes o Lipo me falava nesse tom. Mas quando ele se achava certo de uma coisa, e tinha certeza que eu podia me dar mal, as coisas se invertiam na nossa relação. Ao mesmo tempo que o via me defender de um possível erro meu, de novo sentir soar o alarme de pânico. Se algo sério passasse com a mamma, Lipo seria a primeira vitima. Sempre foi muito apegado a ela. É o caçula, o protegido da mamma. O Babbo nunca teve coragem de encostar a mão no Lipo, ele simplesmente ia para detrás da mamma que o defendia de um trator se esse fosse o perigo que o ameaçasse . Neste momento tremi por dentro e comecei a imaginar coisas que não queria que passassem por minha cabeça jamais.
 Tanto que sentei calmamente num sofá e comecei a dizer-lhe.
-Fratello mio, sei o que estou fazendo, não vou fazer mal a ninguém. O Ricardo curte essas modelos, essas garotas. Mas essa aí ta começando a incomodar. Não me sinto no direito de exigir do Cado que se afaste dela, se pedisse sei que ele faria. Mas não quero também abrir precedentes. Não quero que um dia o Cado me diga se posso ou não ficar com alguém.
-Você tá sendo um babaca. Sabe Grandotte, ás vezes não basta ouvir eu te amo, ás vezes um pouco de ciúme faz bem e tenho certeza que o Ricardo se sentiria até envaidecido por isso.
-Sei disso Lipo! Mas me conheço cara! Não quero que um dia o Cado se sinta no direito de virar pra mim e dizer não fique com fulano!  Escolhemos Lipo um caminho que parece fácil de longe, mas viver o tipo de relação que vivemos exige certos sacrifícios. E pra dizer a verdade vei, Tô me sentindo culpado pra caralho de não estar mais tempo com ele, de não estar dando toda a atenção que ele merece. Não sou perfeito fratello ao menos não para os outros como sou para nós dois. É diferente cara, sei que nós dois seremos sempre Fratelli, com o Cado as coisas podem mudar, somos dois e não univitelinos como eu e você entende? Temos o mesmo sangue nas veias, nosso passado é o mesmo.  Tenho medo vei.
Terminando de falar o abracei. Sentir no seu abraço que tudo que eu tinha dito ele tinha entendido, tinha entendido pelo meu olhar, pelo meu tom de voz. Então respondeu.
-Tá bom Grandotte, mas pega leve. Afasta a mina e basta cosi. Non fare niente di piu.
-Ok, o plano é o Celo fazê-la se desligar dele ou ele perceber que ela não está tão na dele assim. Tu viu a porra dos brincos a menina tá usando? Ta com dois carros dependurado em cada orelha! Aquilo é Tiffanys.
-kkkkkkkkkkkkkk, nunca ti vi com ciúmes. Está até engraçado sentir meu Grandotte inseguro com algo.
-Pois é, tuo fratello não usa capa e não voa. Sou humano.
-Mas é por isso que te amo tanto. Por sua humanidade, te amo por suas fraquezas também, não só por suas forças.
Felipo me deu um beijo que me fez quase não mais sair daquele quarto, tudo quanto fosse alarme desapareceu quando vi o amor em seus olhos. Então o mundo era paz de novo. E mudei todos os planos. Decidir ser eu mesmo de novo.   Voltamos à festa sem que eu tenha dito mais nada a ele. Logo chegando ao terraço encontrei o Ricardo e o chamei.
-Cado, quero você com esta menina não. Se livra dela antes que eu volte da Itália.
Ele me olhou sério por um minuto. Por um minuto nos encaramos. Não tirei meus olhos dos dele. Então ele disse.
-Está bem! Mas com uma condição.
-Condição? Qual?
-Vai lá e diz a ela o que somos um do outro.
Para surpresa dele nem regateei.  Segui em direção onde ela estava. Ofereci uma taça de champagne, a chamei ao meu home Office e disse-lhe.
-Ana, acho que você já se divertiu o bastante com o Ricardo não foi?
-Não entendi!
-Entendeu sim. Este jantar é sua despedida de namoro.  Quero meu homem de volta ainda hoje.
-Você tá brincando comigo.
-Parece que eu estou brincando? E mais, não faz escândalo, aproveita a festa que fiz pra você. No fim o motorista te leva em casa, você fica com todos os presentes caríssimos que ele te deu. E amanhã ganha um carro novo e uma bela viagem.
-Viado!
-Acabou de perder a viagem. Vai perder o carro também?
-Ok. Tudo bem, mas vou falar com ele.
-Não! Já falou demais, já maltratou os empregados demais, já se exibiu demais. Fica na tua. E nunca mais me ofende, pois sei dizer um monte de coisas feias também. Ta vendo esta pasta aqui? Tenho um monte de coisas não muito legais sobre você, não quero usá-la, seria deselegante para com uma convidada. Agora voltemos à festa, o jantar já vai ser servido.
Dei o braço para ela e juntos voltamos  ao salão. O Ricardo sentou a minha direita no jantar e a Ana foi ladeada pelo Marcelo que foi informado do ocorrido. Não lembro ter visto mais os olhos dos dois se cruzarem. No fim do jantar. Pedi ao motorista que levasse ela ao flat onde morava, já com as coisas que ela havia deixado no apartamento do Cado. No outro dia o Cado mandou um belo carro de presente.
No fim fiz o que devia ter feito logo, na minha historia com o Cado nunca fizemos joguinhos, foi bom esse não ter seguido adiante. Nunca em nenhum momento o Cado tocou no assunto, mas uma das fodas mais fantásticas de nossas vidas. O único comentário que fizemos foi quando peguei a pasta que mostrei a Ana e sorri. O Ricardo me perguntou do que eu tava rindo e eu disse que a ex-namorada dele parece que teve pavor quando lhe mostrei a pasta que continha os orçamentos, notas e cardápios do jantar. (nada como um blefe!)
No dia seguinte embarquei para Roma com o coração bem mais leve. Mas com todos os alarmes ligados. Ricardo ao meu lado me acalmava, me sorria me dando força, pois sentiu que entrar no avião suspirei de pesar, eu sabia que não vinha coisa boa pela frente. Estava muito preocupado com a saúde da mamma. Mas sabia que meu Cado era mais meu que nunca. E ele estaria comigo para enfrentar o que fosse.

4 comentários:

  1. Matteo para falar a verdade o q vc escreveu não me surpreendeu, pois sempre te vi como um homem determinado e sabedor de q vc quer. Ficaria surpreso caso vc continuasse com este jogo. Ainda bem q seu irmão abriu seus olhos e mostrou a besteira q vc ia fazer, e como um homem de verdade q vc é soube entender e assumir o verdadeiro Matteo de sempre.
    bacci

    ResponderExcluir
  2. Teozão da minha vida!!! Tenho q dizer q, por um lado, eu gostei do resultado desse jantar. Vc colocando a menina pra correr, so usando a verdade e sua autoridade pra mostrar qm eh q manda. Agora... pow véi, qria ter visto vc na maldade hehehe. Sabe, eu tenho um fraco pra vilões, hahahahaha.
    Torcendo pela tua mamma.
    Paz ae amigoow

    ResponderExcluir
  3. meu coraçao ta dolorido!!!!
    eu vibro com tudo que te acontece, mas neste momento, meu coraçao tb fica apertado!
    que o univers promova o melhor p todos

    ResponderExcluir
  4. Oi matteo estou de volta.. ja colocquei td em dia.. e posso te dizer uma coisa.. cara vc sabe que pode contar comigo.. sei a barra que vc esta passando.. um forte abraço

    ResponderExcluir