7 de ago. de 2011

NSP Cap 54 Vivi uma revolução!



Caraca galera que saudade de vocês!
Vou continuar de onde parei o conto. Desculpem a demora em voltar a postar, mas aqui no hemisfério norte é verão e eu como bom discípulo de Apolo, do Deus Sol, vivo perseguindo ele onde sua luz está mais poderosa, seu calor mais intenso. Italianos são loucos pelo mar, e minha metade mediterrânea não foge a regra. Estive circulando “al mare” junto a um amigo que mais tarde apresento a vocês. Fui a Ibiza levar o Lipo e o Leo, passei por Monte Carlo, fui a Nice e toda a bela Cotê D´Azur, sem esquecer-me da maravilhosa Costa Esmeralda, a Riviera Italiana de águas verdes e claríssimas, belas mulheres de fartos seios e homens que adoram um bronzeado, tal e qual qualquer garota carioca ou baiana.
Minha ultima parada foi um retorno as Ilhas Espanholas, dessa vez a bela Formentera que tá quebrando tudo nesse verão.
Ah! Essa não posso deixar para depois. Em Formentera avistei meu conterrâneo, o belo napolitano Fabio Canavarro, o capitão da Azurra! Preciso dizer que tive que ficar mais de meia hora na agua para desarmar a barraca?
Meu ultimo Post foi sobre meu niver. Não me lembro se tinha falado para vocês que eu planejava uma longa viagem pela Ásia. Pois bem, essa parte da  história começa com os preparativos dessa escapada.
Mio fratellino e o meu cunhadinho delicia voltaram para a New York congelada, pois era Janeiro, estavam em pleno ano letivo. Eu já cuidava da mudança definitiva do Cado, meu gato-mor-cinquentão-tudo-de-bom para a nossa villa. A Europa parecia ter entrado numa nova Era do Gelo, tamanho era o frio. Cada vez mais eu desejava o sol que eu sabia encontraria nas terras orientais.
Cado tentava de toda forma me dissuadi da viagem, pois, as manchetes gritavam que o mundo árabe estava preste a conceber uma nova revolução. Iêmen, Síria, Egito e Líbia pareciam querer mudar séculos de ditaduras. O Ocidente fingia que nada tinha haver com isso tentando esquecer que os tiranos que agora estavam para ser expulsos pelo povo foram por muitos anos sustentados pela Democracia ocidental.
Cado falava.
-Passe um tempo nos Emirados e veja o que vai se suceder primeiro, antes de se meter em terras revoltas.
Eu candidamente fingia que seguiria o conselho, mas nem por um momento passou pela minha cabeça perder a história sendo feita. Queria assistir de perto a tempestade que se anunciava nas terras onde Deus é nominado Alá. Queria ver o grande e renovador tsunami de areia que a juventude islâmica prometia. Minha cabeça aventureira fervia em pensar que eu seria coadjuvante e testemunha ocular no que os herdeiros do grande Guerreiro Saladino (árabes) prometiam. Afinal os mulçumanos já mudaram o ocidente uma vez quando invadindo a Península Ibérica iluminaram com sua arte, azulejaria, cerâmica, metalurgia, matemática, arquitetura, geometria a sombria Idade Média Europeia.
Cado ficou louco quando no aeroporto de Fiumicino, Roma, ele me viu atender ao chamado para embarque no voo que me levaria direto a Amã, capital da Jordânia. De lá eu pretendia atravessar o deserto, chegar a Israel, de novo cruzar o deserto e então atravessar o canal de Suez, e evitando as fronteiras em terra chegar ao Cairo e juntar meus gritos ao povo que na Praça Tahir clamava a renuncia do ditador Hosni Mubarak. Lembro a vocês que cheguei antes das coisas ficarem feias de vez, das coisas se tornarem violentas e governos do mundo inteiro resgatar às pressas são cidadãos.
Ás portas do Gate de embarque calei os protestos indignados do Cado com um beijo cinematográfico, um sorriso largo, um carinho suave no seu rosto que demonstrava toda sua preocupação e pus sua mão no meu peito fazendo-o sentir como batia forte mio cuore aventureiro. Consegui. Ele balançou a cabeça me prometendo uma boa bronca se eu não voltasse inteiro.
 Ao sentar na confortável poltrona da Primeira classe descubro em mim um pouco de Indiana Jones que buscando tesouros arqueológicos encontra aventuras sem fim. Sorri sozinho e decidi que eu merecia um chapéu igualzinho ao do herói Spilberguiano, assobiei a musica que durante gerações inspirou garotos hiperativos em brincadeiras de fundo de quintal. Pam, parampã, pam, parapã.
Sobrevoando Amã vejo os prédios de um tom cor de areia clara quase uniforme, percebo os primeiros prédios de arquitetura mulçumana, dezenas de ruinas romanas. No desembarque no aeroporto Rainha Alia, a cacofonia de dezenas de idiomas. Árabes, Persas, ocidentais de todos os continentes, homens de imprensa fazendo entrevistas a quem chegava ou partia. Ficou claro que o mundo islâmico estava em polvorosa com o que acontecia com seus irmãos de cultura e credo. Fora do Aeroporto tudo parecia mais calmo.  Uma bela cidade, ruas limpas, belíssimos prédios públicos. Passamos por um prédio que lembrou-me a Torre de Babel. O taxista me disse num francês carregado de sotaque que se tratava do Le Royal Amman, um luxuoso hotel e centro comercial. Perguntou se eu tinha reserva. Respondi que não, que preferia ficar num local mais “povo”. Pensei que se a grande onda chegasse a monárquica Jordânia os prédios e hotéis de luxo seriam as primeiras vitimas. Pedi-lhe que me levasse à casa de alguma família que alugasse quartos, de preferencia num bairro residencial. Assim conheceria um pouco mais da cultura local e evitaria aglomerações!  Outro jeito de fugir de uma bomba perdida.
Chegamos num prédio que me pareceu ter um milhão de corredores. Uma senhorita abriu a porta e percebendo o estranho que era eu se apressou a cobrir-se com um lenço. O taxista me explicou que a família era ortodoxa, mas, a serviçal era mulçumana. Lembrei-me de não dirigir a palavra a ela em respeito aos seus costumes, apenas acenei com a cabeça. Logo em seguida uma senhora loira com os cabelos fixos em muito laquê, vestida num elegante Kaftan, apertou minha mão me cumprimentando.
 "As-Salaamu 'alaykum"
- "Wa-'alaykum asalaam" Respondi, torcendo para ter pronunciado de forma correta.
Num inglês corretíssimo ela me disse ser armênia. Perguntou sorrindo se preferia que falasse em inglês, francês ou armênio. Imediatamente pensei,
“ ela deve estar brincando! Será que alguém que não seja armênio fala tal língua?”
Respondi que se o francês dela fosse tão bom quanto o inglês eu adoraria. Brinquei que como bom italiano prefiro as línguas latinas.
Ela chamou um rapaz que me pareceu ser seu filho maior e me apresentou como novo hospede. Pediu-lhe que me mostrasse o apartamento que achei um labirinto de salas forradas com tapetes tribais dos Bálcãs e quartos decorados ao estilo árabe. Surpreso com o tamanho do imóvel que me pareceu ser a junção de vários. Fui brindado com um bom aposento, refrescado por imenso ventilador de pás que lembravam-me asas de uma libélula gigante, belos tapetes turcos, almofadas em excesso. Uma treliça escondia uma banheira imensa de louça, num canto uma pia de mármore muito antigo e uma janela que dava vista para um parque meio decrépito, mas repleto de belas oliveiras. Adorei!
Durante o jantar conheci o chefe da família. Um funcionário público de médio escalão que vivia de um salário mediano somado as propinas e os aluguéis que seus quartos lhe rendiam. Era uma família favorecida pelo cargo do chefe e por ser fluente em idiomas ocidentais. Isso facilitava a locação dos quartos para hóspedes estrangeiros, muitos deles fotógrafos ou jornalistas. Também me aproximei mais do jovem que mais cedo me mostrou o apartamento. Era um apaixonado por futebol, interessado pelo Brasil e sua cultura. Rapaz simpático, magrelo de olhos curiosos e inglês fácil.  Perguntava-me tudo que lhe vinha à cabeça sobre o país do qual só sabia que produzia bons jogadores de futebol, havia uma festa indecente chamada carnaval e que ultimamente estava na mídia devido ao Presidente que um dia foi operário. Eu lhe falava sobre a nossa realidade, sobre a convivência pacifica de varias religiões, etnias, a imensidão de nosso território, a diversidade de nossos costumes.
No dia seguinte corri a cidade. Apesar de ser famosa pelo frio durante o inverno, o céu estava limpo e brilhava frio, sentia-se a cheiro de cidade antiga, Amã é uma das cidades mais antigas do planeta. Diz-se que se tem registros de civilização de 8.000 anos ac. Foi originalmente construída  sobre sete colinas assim como Roma. Conheci belas ruinas romanas em uma cidade cheia de história. Já se chamou Filadélfia, foi invadida por assírios, persas, gregos, romanos, otomanos. Durante a recente década de 70 conviveu com grandes conflitos entre o exército jordaniano e a temida Organização para Libertação da Palestina a OLP, quando esta ainda atuava como grupo terrorista. Mesmo assim não deixou de receber levas e levas de refugiados palestinos quando o poderoso estado de Israel resolveu crescer suas fronteiras à bala.
Apesar ou pôr tudo isso Amã é uma festa para quem curte arquitetura e arte. Vi belas mesquitas, igrejas, ruinas de anfiteatro e templos. Surpreendi-me com diversas torres de vidro que me fizeram lembrar cidades americanas.
Fui ao mercado central da cidade. Uma festa de sons, cores e cheiros de especiarias que fizeram a Europa inteira um dia se movimentar em busca das poderosas ervas que conservam, dão sabor e cor ao alimento, melhoram a saúde e temperam a libido. Neste mesmo mercado conheci um cara de minha idade. Um irlandês divertido, acho que o cara mais ruivo que já vi na vida. Seus cabelos em cachos vermelhos e sua pele translucida me faziam pensar estar na companhia de um arcanjo. Sorriso sempre aberto e mania de dar tapas nas costas. No segundo tapa enchi a mão e dei o troco. Acho que usei a brutalidade na medida, pois apesar de ser do meu tamanho eu sou bem mais largo. Nunca mais o sujeito me deu uns daqueles miseráveis tapas espalmados que me fizeram curvar e tremer de ódio. Ficamos bons colegas. Vi seus olhos brilharem quando eu disse-lhe que tinha um esquema para chegar ao Cairo que a esta altura tinha tornado a praça Tahir o nome principal das manchetes no mundo inteiro.
No dia seguinte seguimos às quatro da manhã em direção a Al-Karak atravessando um deserto que soprava um frio cortante que trazia no vento grãos de areia que pareciam chicotadas quando batiam no rosto. De Al-Karak, seguimos para o extremo sul na província de Aqaba. Chegamos à cidade do mesmo nome capital da província e decidimos depois de ver que era seguro cruzar a fronteira direto por terra. Chegamos a Eilat uma cidade balneária com ares americanos. Bastante moderna. Bela praia de areias pedregosas à frente e nas costas montanhas de cor ocre. Mulherada bonita do caraio e homens interessantes. Mas eu estava focado no povo árabe. Tava doidinho para experimentar um homem árabe bem típico. Daqueles de nariz reto, olhos negros, barbas cerradas, tez morena. Além disso, meu alvo era a agitação das ruas do Cairo.
Eu já havia estado no Cairo e tinha ficado surpreendido com a loucura do transito. Mesmo eu acostumado com o transito de Roma e Paris. Mas nestas cidades é uma loucura ordenada. Lembro-me que uma vez fiquei dando voltas no Arc de Triomphe sem saber como sair daquela ciranda sem fim. Acho que na quinta volta resolvi fazer como os franceses. Simplesmente liguei a seta meti a cara do auto de frente a Avenue de Champs Elysée e segui rindo de mim mesmo para a Place Vendôme.
Surpreendi-me tanto no Cairo como em Alexandria do barulho infernal que os motoristas fazem com as buzinas do carro. Se tem gente que entra no carro e liga o som, acho que os egípcios testam a buzina. No transito egípcio circulam carroças, autos, pedestres, todos ao mesmo tempo e ninguém dá a mínima a sinais.
Passamos pelo posto de fronteira onde israelenses de bons humores nos deixaram passar facilmente. Ian, o irlandês, disse-me que se surpreendeu com o bom-humor dos soldados. Respondi que eles devem estar achando que somos loucos indo em direção ao olho do furacão e que talvez não estejam tão bem humorados quando o assunto for reentrar. Imediatamente o sorriso na cara do Ian se tornou uma incógnita. Fiquei pensando que ele estava pensando por que teria me seguido até ali, onde o mundo parecia que ia entrar em guerra se você peidasse fora de hora.
Em Ras el Masri fizemos contato com o guia que nos levaria pelo deserto egípcio. Fiquei todo feliz quando vi o Land Rover em que viajaríamos. Quando cheguei mais perto vi que deve ter sido um dos primeiros exemplares e que na verdade deveria pertencer a um museu. De repente me imaginei perdido pra sempre naquele deserto tendo que comer ou o guia ou o Ian. Digo comer literalmente, tipo bifinho de coxa. Depois caiu a ficha e percebi que se rolasse bifinho de coxa seriam das minhas coxas ou das do Ian, afinal o egípcio devia estar mais acostumado com as agruras daquele mar de areia.
Ahh! Pensei. “O Indiana Jones daria um jeito!” Sentei naquele banco forrado com uma coisa que nem imagino o que seja.
Apesar de amar os desertos, eu estava morto de cansado, troquei de lugar com o Ian e deitei no banco de trás na tal coisa que era até aconchegante. E dormi acho que mais da metade do caminho. Finalmente no começo da noite entramos numa Cairo que parecia estar deserta. O guia sorria me dizendo que a cidade estava tomada pelo exercito, mas que não nos preocupássemos, pois eles estavam simpáticos à causa dos revolucionários. Ao ouvir a palavra “revolucionários” me dei conta da realidade de onde havia me metido.
Depois que passamos os subúrbios vimos ruas com trincheiras.  Num bairro que me pareceu elegante e deserto soubemos que haviam atacado um hotel de luxo. Perto de centro entramos numa garagem e o guia me disse que iriamos por dentro dos prédios e por vielas mais escondidas. Deixamos o carro numa garagem, pegamos as mochilas. Por segurança o guia deu um agasalho com capuz para que o Ian escondesse sua brancura e seus belos cachos ruivos.
De repente ouvimos gritos que mesmo sem entender identificamos como palavras de ordens. O guia disse que estávamos perto da Praça Tahir. Subimos por uma escada escura e saímos no corredor de um prédio de salas comerciais. Fomos ao terceiro andar e o guia abriu uma sala de escritório, disse que ali nós ficaríamos hospedados. Ele nos levou a sala seguinte. As vozes vinda da praça pareciam estar muito próximas agora. Assim que ele descortinou uma janela envidraçada e descerrou as venezianas de madeira vimos a imensa praça redonda cheia de uma multidão que cobria todo o território. Não se via o chão. Mio cuore disparou emocionado. Vi gente do povo com cartazes em árabe e inglês vi senhoras com velas na mão. Vi barracas enroladas sendo abertas para eles acamparem na praça. De algumas janelas e terraços vizinhos vimos câmeras de TV nos ombros de valentes cinegrafistas e vimos soldados fechando as ruas que davam acesso à praça. Apesar da brutalidade transmitida pelos tanques. Era visível que eles estavam irmanados com seu povo. Parecia impossível qualquer um deles disparar num patrício por ordens de um tirano que estava à beira da ruina.
Passei a noite dependurado na janela assistindo o povo cantar hinos nacionalistas. No radio as noticias da BBC de Londres era de que todos os países ocidentais já haviam retirado seus cidadãos. Também davam noticias de que o governo egípcio havia suspendido o trafego pela internet. Era quase impossível conseguir chamadas internacionais. Nas redes locais de TV viam-se ataques que tentavam conter a população, ora e outra um estrangeiro aparecia nas tvs estrangeiras dizendo estar preso num hotel com medo de circular pelas cidades. Nosso guia nos aconselhou a esperar acalmarem as coisas para que saíssemos dali. Dormimos por dois dias e três noites no chão de um escritório de advocacia. Depois conseguimos nos mudar para um apartamento próximo. Ali uma família estava hospedando alguns jornalistas asiáticos e estudantes valentes que se mantinham de pé para assistir os acontecimentos que poderiam mudar a história do país que por muitos anos mediou à relação de Israel com os Árabes.
O Egito é uma civilização antiga que entrou em declínio depois da queda brutal de Cleópatra VII, ultima descendente da linhagem Ptolomaica. Esta mesma linhagem era de descendente dos gregos e macedônios  que com a morte de Alexandre o Grande teve esta parte do seu antigo império herdado por seu general o Bravo Ptolomeu. Uma rainha que se tornou mito por sua inteligência, astúcia e por Elizabeth Taylor. Não consigo imaginar uma Cleópatra diferente de Lyz Taylor! KKKK.  Mas a verdadeira Cleópatra caiu, caiu na tentativa de ser maior que Roma, caiu para tentar restaurar a grandeza de seu império, caiu por amor a um bravo general que estava em declínio físico e moral por noitadas de bebidas e sexo com cortesãs e garotos de cara de anjo. Típica queda de um Romano! Triste fim para um grande soldado.
Na nova estalagem conheci um garoto do Alto Egito! Lembram-se das aulas de história egípcia? Duvido! Aposto que na aula estavam prestando atenção no coleguinha gostoso que fazia parte da turma barra pesada no fundão da sala! KKKK
Alto Egito fica no sul. Karin era da cidade de Aswam! Tinha o corpo largo de quem nadava desde a infância, cabelos pretos que brilhavam quando sol lhe batia o alto da cabeça. Cheiro de sândalo e calor. Nariz imenso, sobrancelhas grossas, pareciam pintadas, olhos sempre ativos. Falava um inglês com sabor britânico,  tinha os dentes brancos sempre expostos num sorriso amplo. Sua pele parecia que era feita da areia do Sahara. Brincando eu o chamava de Ptah, antigo deus que era considerado o protetor de Memphis antiga capital egípcia. Ele mostrava conhecimento na história recente de seu país e estava animado com o que poderia acontecer. Vi seus olhos procurando pelos meus diversas vezes. E os meus estavam sempre prontos a lhe receber a mirada que me transmitia carinho e admiração.
Na segunda noite amontoados no quarto que estávamos, dormimos com o corpo colado devido ao frio e como desculpa para estarmos quase se misturando num só. Tudo isso era feito de forma discreta. O irlandês ainda não tinha percebido. Quando percebeu nossos olhares, ele me disse.
-Estranho esse menino! Está sempre de olho em você! E você parece retribuir.
Respondi.
-Parece não! Eu quero ele! Ele vai ser meu!
Depois de uma cara estranhando minha resposta ele relaxou e não mais se meteu.
Com o Karin, meu Ptah, comecei a frequentar a praça que estava sempre cheia. Todos os dias o governante vacilante fazia um discurso na TV, todos congelavam esperando ouvir a aguardada renúncia. Depois ele sumiu por três dias e começaram rumores de que ele estava amealhando tudo que saqueou do país para uma fuga espetacular. Ouve momentos que corriam boatos que não passaria dessa noite. A todo o momento mais um integrante do governo saltava do barco que eles sabiam estava prestes a afundar. Os egípcios estavam tensos e esperançosos. Na Praça Tahir que naquele era o centro das atenções tanto no mundo oriental quanto ocidental atenção era constante, mas havia também um ar de “vamos conseguir” uma luta por direitos justos. Outras praças do Cairo e dio Egito inteiro também contavam com seus soldados da liberdade, mas Tahir era o centro, com certeza por ser na capital, com certeza pela importância e imensidão da praça.   Sentia-se no ar que o povo havia finalmente tomado conta da situação. Ao mesmo tempo chegavam noticias de as coisas esquentavam no Iêmen.
Com os problemas para transmitir noticias, logo alguns nerds deram um jeito e começaram a ser feitas ligações via celular para os países vizinhos e por meio dessa chamada era conectada a internet. Dei meu smartphone para o Karin que se tornou uma espécie de correspondente para sua faculdade, ligando para parentes de amigos e quem mais pedia noticias, e transmitindo por seu blog tudo que era possível. Eu o ajudava como podia, corri com ele atrás de pessoas que eram procuradas por parentes distantes. Prestávamos atenção em tudo que era falado. Não dávamos crédito as noticias das redes estatais.
Ficamos cada vez mais íntimos. Sempre estávamos juntos. Quando eu menos esperava ou quando sabíamos de algo importante sentia sua mão agarrar a minha com força. Isso não é estranho na cultura árabe. Amigos andam de mãos dadas.
Nunca vou me esquecer! Numa tarde  de sexta feira, dia 11 de Fevereiro, comíamos frutas secas num balde doado por locais. Estávamos encostados num tanque de guerra, oferecendo frutas a um soldado em favor de informações. Foi quando toda a praça de repente ficou num silencio sepulcral. Televisores espalhados mostrava um Hosni Mubarak cansado e nervoso.
O Karim traduzia para mim. De repente ele pulou no meu pescoço. Toda a praça entrou num jubilo inesquecível. Não foi preciso que ele traduzisse pra mim.
Hosni Mubarak havia renunciado ao governo após 30 anos no poder.
As lágrimas de Karin se juntaram ás minhas. Um carnaval tomou conta do país, buzinas tocavam, pessoas se abraçavam. Soldados que antes estavam de pé sobre os tanques baixavam armas e se irmanavam com seus patrícios. Todos pulavam de contentamento. Bandeiras balançavam dos prédios, crianças nos ombros de seus pais agitavam os braços alegres pela imensa alegria que contagiou a todos no momento. Tínhamos conquistando o mundo! Eles tinham conquistado o bem mais precioso de todos! A liberdade! Haviam redescoberto o poder que deles emanava.
Karin, meu Ptah, agarrou minha mão e me fez correr toda a praça. Entusiasmado o pus nos meus ombros e dancei com ele lhe segurando as mãos. Depois o tirei de cima de mim e disse-lhe.
-Meu Ptah vocês conseguiram, todos vocês conseguiram! Estão mudando tudo que há em volta de vocês. Desejo que sua nação se levante, que seu povo viva melhor. Tudo está nas mãos de vocês agora.
Ele enxugou uma lágrima que não vencia a barreira de seu nariz grande. Segurou minhas mãos e me levou numa viela cheia de barracas de dormir. Por detrás de uma dessas barracas senti seu corpo forte se juntar ao meu. Seu coração estava abaixo do meu. Juntos éramos uma bateria inteira de escola de samba. Vi que ninguém nos via e apertei mais ainda seu corpo junto ao meu, levantando-o para que eu alcançasse sua boca que imediatamente se abriu para minha língua. Invadimos uma barraca e nos agarramos como loucos.
Eu sentia seu cheiro forte de sândalo, sua boca corria pelo meu rosto querendo-me beijar todos os poros. Nossas mãos enlouqueceram num frenesi erótico de busca por descobrir o outro. Riamos e arfávamos. Línguas sugavam um suor que era puro desejo. Espalhei-me no seu peito de areia, liso, moreno, quente, pulsante! Ele gemia de uma forma que me enlouquecia. Seus negros cabelos grossos estavam emaranhados nos meus dedos que tentavam em vão um controle.
Eu esqueci o inglês e voltei a falar em italiano, e levado pelas emoções que vivemos disse um poema de Herman Hesse que em minha língua é belíssimo:
Perche’ ti amo, di notte son venuto da te
cosi’ impetuoso e titubante
e tu non me potrai piu’ dimenticare
l’ anima tua son venuto a rubare.
Ora lei e’ mio – del tutto mi appartiene
nel male e nel bene,
dal mio impetuoso e ardito amare
nessun angelo ti potra’ salvare.

Ele respondeu em árabe, depois traduziu-me o belo poema de Khalil Gibran:
“Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Puta que pariu! Não é de pirar?
Desafivelamos nossas calças e nos descobrimos de pudores com as calças presas nos joelhos. Eu sentia suas unhas me arranhando as costas.
Mudamos de posição, ficamos de lado, de frente um para o outro. Nos olhamos e sorrimos felizes. Ele me disse.
-Nunca vi seus olhos tão azuis!
Respondi.
-Viraram mar querendo que você se afogue neles.
Ele beijou cada olho meu, e fiz o mesmo com seus olhos de um negro noturno.
E nos dobramos procurando o pau um do outro e nos engolimos, nos chupamos, nos mordemos chegando a machucar. E eu me deitei sobre suas costas, e entrei decidido sem prestar atenção a gemidos de dor e prazer. E ele me segurava os braços como que me impedindo de recuar. E o cheiro de sândalo agora era sexo animal. E os olhos negros agora brilhavam de prazer e minha mão o fez gozar junto comigo entre gemidos ferozes e risos alucinados. E descansei amassando-o debaixo de mim. Nossa respiração junta foi se compassando, nos olhamos agradecidos pelo que juntos que fizemos. Pelo que demos um ou outro, nos olhamos e sorrimos. Ele passou a mão por meu rosto e disse.
-Vou sentir saudade.
-E eu nunca vou esquecer o que vivi aqui. Respondi
Seguimos de mãos dadas até encontrar os outros. Os outros que tínhamos esquecidos quando o mundo era só nós dois.
Encontramos o Ian, e alguns amigos de Praça. Um jordaniano, um marroquino e outro egípcio que era colega do Karin. Tinham encontrado duas Israelitas que pareciam ferozes baladeiras. Eram recém-saídas do exercito e faziam a tradicional viagem que os jovens israelenses fazem quando deixam as armas após três anos de serviço.
Sentamos numa casa de chá e bebemos litros. Alguem trouxe uma narguilé     que foi dividida entre todos nós.
Me deu saudade de meu Cado. Pedi o smartphone para o Karin, tentei uma conexão. Só consegui depois de mais de uma hora.
Cado ficou feliz de me ouvir e eu me senti mais perto dele o ouvindo, Sentindo acarinhado por sua preocupação. Chorei de novo quando contei-lhe toda a emoção que tinha vivido. Fazia mais de dois dias que não nos falávamos. Pedi noticia do Lipo e do Léo. Cado me falou que ele continuava a ligar a cada duas horas preocupado comigo.
Senti uma imensa vontade de que o Lipo tivesse vivido a aventura que vivi. Prometi ao Cado que ligaria para ele assim que chegasse a Tel-Aviv. Havíamos decidido cruzar o Canal de Suez em direção à terra hebreia no dia seguinte. Cado me fez jurar não ir à Líbia. Respondi falando a verdade que não iria. Todos apostavam que a Líbia seria o próximo dominó no jogo que tomava todo o norte africano. Mas sendo italiano e com a história em comum que a Líbia tem com a Itália não seria um bom lugar para europeus. Para quem não sabe a Líbia é uma ex-colônia italiana. O nosso atual ministro o Berlusconi-come-tudo-que-abre-pernas sempre paparicou Gaddafi e estava tirando o corpo fora quando percebeu que ele seria a bola da vez.
Fomos dormir de madrugada. Não resistimos e passamos a manhã de Sábado vendo e vivendo os comentários da cidade. Meu Pthar ainda estava ao meu lado disse que me seguiria até o posto de travessia do canal. Pedi que ficasse e ajudasse como pudesse a divulgar tudo que tínhamos visto, que ajudasse as pessoas a terem noticias de seus parentes, que ficasse para receber as glórias de que tinha direito. Ele ficou triste, mas, entendeu que eu não queria uma despedida. Deixei com ele meu smartphone. Ele tirou do braço uma pulseira com uma pedra lápis-lazúli beijou-a e pôs no meu pulso.
No fim da tarde chegamos ao porto de travessia do Canal. Alugamos uma Cherokee e fomos sem guia. As meninas israelenses conheciam o território e nos levariam. Fomos eu, o Ian, Rafush o jordaniano, Ali o marroquino, Hanna e Isabeau as duas israelenses. Chegamos a tempo de ver uma barca acabando de sair. Esperaríamos mais duas horas para a próxima.
As meninas eram baladeiras de verdade. Puseram musica eletrônica no som portátil, chamaram os meninos a dançar. As poucos fui me afastando, levei um candeeiro até uns 20 metros do carro. Já fora da estrada, vasculhei a areia temendo escorpiões, sentei no meu agasalho e abri meu notebook tentando achar  um amigo de web. Encontrei dois. O Lê estava on-line, um garoto carioca que sempre está comigo, um amigo que levo no coração mesmo sem nunca ter chegado perto. Encontrei também o Xandi outro amigo que por meu intermédio hoje namora e mora com meu melhor amigo.
Enquanto teclava com ele olhei o céu e uma linda lua iluminava o canal que parecia uma piscina gigantesca de tão calmo. Uma lua de Oxum brilhava no céu e era dupliacada nas aguas mansas do canal. Olhei para o carro estacionado e vi as meninas dançando em cima do capô, os meninos se riam delas e sua espontaneidade.
Pensei onde estava, em tudo que fiz, as emoções que passei. Pensei nos que amo.
Estava feliz num lugar lindo ouvindo o som do deserto poderoso às minhas costas. Soprando no meu ouvido tudo que viu pelo mundo, tudo que por ali passou. Percebi que todos podemos escrever cada linha de nossa própria história, que tudo depende de nossa vontade. Não somos escravos do destino! Pelo contrario ele é nosso servo.  
Toda a história que vivi ali nunca mais vou esquecer, o medo da morte, de nunca mais ver os que amo, nunca mais esqueço o meu doce Pthar que amei tão profundamente quanto me permiti. Então mais uma vez percebi como o medo é frágil perante os bravos. O medo não resiste a quem responde sua careta mostrando vontade.

12 comentários:

  1. 'Le pido al cielo solo un deseo
    Que en tus ojos yo pueda vivir
    He recorrido ya el mundo entero
    Y una cosa te vengo a decir
    Viaje de bahrein hasta beirut
    Fué desde el norte hasta el polo sur
    Y no encontré ojos así
    Cómo los que tienes tú'


    Eh, eu lembro, rs

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  2. Berlusconi-come-tudo-que-abre-pernas? ahhahahahahh
    Caramba, nunca ia imaginar que ali próximo à praça onde a mundiça egípcia se concentrou estaria o puto do Matteo sendo feliz numa viela... hehehehehhehehe
    falando sério, vi muitas reportagens e papers sobre a queda do ditador egípcio, mas nenhuma foi tão legal de se ler... além da aula de história, né? nunca tive saco p história, mas se eu tivesse tido um prof como o Matteo, hj eu seria historiador! ehheheheh

    Ah, eu tmb queria andar d mãos dadas com meus amigos! principalmente, os melanina-full! heheheh

    grande abraço, pseudo-italiano!

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  3. Que porra é essa de Pseudo italiano meu Sol? Olha que minha metade Napolitana não gostou disso!
    Baci,

    Matteo

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  4. Sabia que tinha uma boa história pra contar! Porra Matheo deve ter sido massa mesmo. Mas foi muito arriscado cara. Coisa de louco!Ahahuahuuha Entretanto valeu a pena, estar presente em um acontecimento histórico como esse, né pra qualquer um. E ainda descolou um nativo num bequinho. Loucura das doida! Tesão a mil. Só tu mesmo pra trepar em alta revolução..kkkk. Show de bola essa história!

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  5. Lindo gatao, quando vc me disse que foi ao Egito fiquei meio cabreiro com o que estava acontecendo, mas achei que tava tudo bem! Nunca imaginei que passou por tudo isso kkkkkkkk

    Beijo gatao, te amo


    Leke.

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  6. Sol, seu pilantra sumido! Putiado contigo viu!
    Tinha q ser vc pra sair caçando os melanina-full hehehe.

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  7. Tô achando isso uma safadeza, os dois se cantando na minha frente! Sujou comigo Leozim, O Sol nem fala, tô pra jogar agua na fervura dele.

    Baci, saudades dos dois.

    Matteo

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  8. AHHAAHHAHAHAHHAHA
    como vcs são capazes de falar essas coisas d mim? logo eu, uma pessoa recatada e puritana... hehehehe
    Leozimmmmmmmmmmmmmmmmmm, rpz, quanto tempo! como anda a vida no Hell?
    Tou muito feliz, fui a uma balada gls pela primeira vez na vida! shaushausha
    Matteo, como sempre, quer tudo pra ele, egoísta! eheheheh
    Abraços pros 2 e pros leitores do blog, a quem peço desculpas por utilizar os comentários como bate-papo! shaushaush

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  9. To cantando ngm aki nao Teo! So to dando um esporro devido num amigo q abandona os outros pra pegar varios melanina-full em boate gay de Sampa! Fico puto com essas pessoas q me abandonam... (sim, foi uma indireta).

    Pelo menos eu mantenho meus branquelos por perto, eles nao me faltam, hehehe.

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  10. Oi Matteo!!
    Td bem? Lembra de mim? Adriano Leite, seu amigo capixaba. Hahahahahaha

    Pois é... acabei de ler essa parte da sua história e, como sempre, me encantei com a emoção que você consegue imprimir nelas. Não sei se sou eu que ando mto sensível ultimamente, devido a uma situação chata que aconteceu esse mês, mas é fato que eu tenho refletido sobre mtas coisas. E uma das suas frases no final me chamou mto a atenção e creio que me fará refletir mais ainda.

    Enfim, quero que você saiba que eu torço sempre por você. Ah sim... quero aproveitar pra te desejar os Parabéns!! Acho que aí o seu aniversário já passou, ou quase, mas aqui ainda são 22:18 do dia 14/01/2012. Então, meus mais sinceros parabéns pra vc.

    Um beijo grande!!!

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    1. Claro que lembro de vc meu Capixabinha gostosim! Queri9a saber a frase que te bateu nel cuore! Grazie por dar-me il auguri.
      Bacio Grande!

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    2. Oi Matteo!!
      Td bem?

      Bom, a frase do texto que mexeu comigo foi:
      "Percebi que todos podemos escrever cada linha de nossa própria história, que tudo depende de nossa vontade. Não somos escravos do destino! Pelo contrario ele é nosso servo."

      Acho que juntando algumas coisas que aconteceram nesse início de 2012 com essa frase, mtas coisas estão sendo repensadas por mim. Acho que tá na hora de eu começar a viver mais por mim e menos para os outros.

      Enfim, minha vida mudará radicalmente em 2012. :D

      Bjuuuussss,

      Adriano

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